domingo, 16 de janeiro de 2011

CAPA E TEXTO INTEGRAL DO LIVRO PLENITUDE (2009)



     PLENITUDE


PASSEIO DA PLENITUDE

                         
Sem que findas as passadas,
exulta em mim
              a prodigiosa euforia
a sentir que até aqui
                         sou efundida plenitude!
Daí por diante...
Qualquer acaso
é encontro do instante inspirador,
e o compassivo entendimento
   é eloqüência do versador
       a versatilidade de exclamar!

Arremeto-me
a ousadia da perpetuidade,
sem anular o desejo audaz
e irrestrito de um sonho!

Que em tempo algum o verso
se encontre desacompanhado
de uma solícita atitude
ao ser por ele transcrita...
Ou que um olhar
só a si o verso atenha.
Nem que seja de si imputada
a lógica de outro possível discernir!




Aqui verso
          o universo de possibilidades
              do homem se anelar ao meio,
e as conjecturas advindas
         de ser enobrecida a fusão,
a repensar cada ato
   do versar libertino,
                       passivo ao afloro da alma
a uma urdida sordidez...
Ou a mais singela ousadia!

O declaro...
É o desnudo afloro da poesia!
Deleite dos versos
poderem ser vistos um canto!


                            LUIGI MAURIZI












DEDICATÓRIA



Tem visão febril, e com acuidade
distingue quaisquer singelezas,
apercebendo-se de toda impetuosidade do íntegro versar. Hábito incontestável de uma “Águia”. Aqui...“Letrada”!

E com as imaginárias asas e garras
alça o conteúdo alheio em vôo pleno,
desdobra-o com versatilidade, e interpretativo permite o adensamento do itinerário do outrem, com o intuito de conduzir o afortunado até o delinear de um raiar que possibilite antever um diferenciado horizonte.

Ao Crítico e Amigo
                      
       CELESTINO SACHET



Feliz aquele que dispõem de tal olhar,
que sendo crítico e observador,
tem sapiente leveza
e tão austera autenticidade!
                            


                                                        


 PLENITUDE




















INTEGRIDADE



Verso cada boca
                       que procuro...

             Cada rosa
                        que rego...
     
             Cada cor
                        que enxergo!

            Extasiado...
Só praquela declamo
                         as cores da rosa
                                          que verso...

E se me aninho nos tais lábios...
                                Aquieto-me!
        









DESCORTINA O AMOR E O DIA


Ela se desdobra
        em afazeres de madre...
Ele os cobria de amor...
E a casa provia!

O café sortido a mesa
              dizia ser outro dia...
Há um longo abraço...
E o beijo
       que tudo principia!

Afazeres sob a confidência
                   ao serem em tudo...
                                      Parceiros!
Sob palavras e olhares caridosos,
         ali eram partilhadas
         as obrigatoriedades do dia!

Nas caras, as crias traziam
                      a sonolência matinal...
Mas faziam renascer a euforia
         que principiava cada dia.

A cada chegada havia um beijo...
E outro pra cada saída pro dia!





FRUTIFICAÇÃO



Como aquele que é sabedor
da abundância fértil de um solo,
e da demora em rasgar no tronco
os ramos aflorados
até que se dependure neles
algum possível fruto...

Assim, semeia o poeta seus versos,
num universo de rabiscos,
em páginas que anseiam...
Acreditando ser ele o elo
entre o ato de semear,
e a possibilidade de uma colheita.

Imprevisível fração de tempo
até que deitem neles algum olhar,
e uma mão faminta os colha...
Em saboreio daquela ousadia!











INTERMITÊNCIA



Desconcertante é o afloro
                                     da lembrança
que se quis fosse reprimida,
e que ignora sua inconveniência
num reviver intermitente
no silêncio de um instante,
                        sem que seja aguardada.

Infortunada preliminar
de um esboço de angústia,
a sentir ser inatingível
o debandar daquela paixão!

















AO AVESSO DA TRADIÇÃO



O cavalo é largado no pasto
                                          (do vizinho)...
                  Tal o orgulho que tem.
E cachorros libertinos,
    que sem cercas ou vigilância
afugentam carteiros e carroceiros,
ou quem por ali se obriga a passar...
Soltos e arredios... Na rua,
e nas terras vizinhas.

O “dito” faz-se peão,
               apontando o cavalo que tem
largado no pasto vizinho,
                 aos cuidados de ninguém...
                Nem farelo...
                Nem agrados...
Só o pasto é que lhe convém.

Fala grosso
ao  assentar no largo cinto a faca.
Vai enterrar seu cavalo,
                          vítima do descaso,
                                               ou descaro,
         ainda, nas terras do vizinho!





MOMENTO DEVOLUTO



Antes...
             
              Que o desejoso abraço
              seja só um acaso...
             
              Que pareça longínqua
              a possibilidade de acalorar...
             
              Que a pressa oprima
              a premissa de entregar...

              Que a conformidade anule
              a insistência de criar...


Antes...
               
                A rispidez do realismo
                   que traga consigo
                                       obrigatoriedades...
               Mas indique a possibilidade
                        de no entremeio...
                              Sonhar!






TEXTURA DA TRANSPARÊNCIA



O deleite da corredeira
                   ante o pé tão delicado
                                       e medroso
                   a ousar sentir a textura
                                                e a ventura
                                    de a penetrar,
                   feita limpidez cristalina
                              que extasia o olhar
e atiça o movimento cauteloso
                                           da inserção
                  do pé moreno da moça
a mergulhar sua transparência...

O olhar da moça
                quer a essência
                da inserção na turbulência
e medir-se na alheia transparência.












POSSIBILIDADE



O instante
reparte o tempo
                 entre um antes
                                    e um adeus...
   
Mas o abraço
dissipa a insistente contagem,
e eclode em palpável permissão;
Mesmo sendo indefinível
                             sua permanência.
















CASUÍSMO



A varanda muda e imutável
                                   assiste...
                      Sem acenos.
                      Sem sons.

Enxerga a passividade da avenida,
                     que ao seu invés,
                             é toda reboliço
                                de pés e pneus,
                                de gritos e gestos,
                                e olhares
pras nuas e mudas varandas!

















FLORADA



Margaridas em florada
são sorrisos transplantados
com longos e arqueados dentes,
se de alvo veludo fossem forrados!

Florão que se debruça
atado ao centro circular,
que amarelinho por inteiro
tem a função dos dentes atar!

Há quem nela faça a escolha,
em bem-me-quer... Mal-me-quer...
Arrancando dente por dente,
até saber de quem é mulher!

Margarida inocente
faz aguardo de ser tolhida...
É agrado permanente...
Até ao enfeitar a partida!










INDISTINÇÃO



Há braços que entreabertos
                      sugerem abraços...
       Outros são entrelaço
                      de causas sem fins!


Nos dois há o deslumbre
                        de ser o aconchego...
Mas o apego é só de um...
         Que não mede o aperto!

















INDIFERENTISMO



A ingerência de lucratividade,
    tida” insígnia” dos poetas,
é avessa à vontade da fome
   e expressa a riqueza
   que num interior
é tida inteira fartura.


É uma questão de postura
    a dignidade dita insana,
por ser percebida só nos versos...
Mas nunca avessos ao poeta!   

















DESARME



O despeito mais sórdido
é o desmascaro de um blefe...

Imaginado ser fatal a outro,
faz experimentar em si próprio
a rudeza do desarme...
Como se “gatilho”
que fere as próprias mãos.





















O PRÓPRIO OLHAR


Sofrível...
É o suplício
de um olhar consciencioso
que prometeu-se proteger...

De uma atitude dês-intencional
que permite se aperceber...

De uma voz contundente
que não admita se desdizer...

De uma tenacidade fulgural
que não permita sentir-se vergar..

De um gesto sutil e inquietante
que sem ferir faça entender...

Sofrível...
É o olhar que não se amedronta
ante a atitude de medir-se...
Pois há nele o código
de ser interminável o aprendizado,
o convívio com a permanência
da interrogativa que questiona
cada novo intento de prosseguir.




FRISOS DE UM SORRISO


Traçado no rosto, um friso...
Atitude pioneira da estampa
que expõem a alma no riso,
insistente, até que encanta!

O sorriso não se explica;
Só denota a satisfação
que contagia e se multiplica
até ser ele uma multidão.

O sorriso que conforta
desfaz a desesperança!
É chave que abre a porta
ao advento da bonança.

No sorriso transparece
do que o interior é repleto,
e pra todos se oferece
sem diferenciar dialeto.

Como se idioma universal,
cria um elo com o mundo;
O sorriso é intencional
ao partilhar o mais profundo!

O sorriso desdenha da fronteira
que o imagina em letárgica agonia;
Vê vingar nos lábios, faceira,
sua primazia, a alegria!


MAGIA DE UMA ILHA!


Ali toda a abóbada
       funde azuis a contrastar
                    com esverdeados,
que cobrem os elevados
das advindas vertentes
e córregos camuflados,
que só descortinam-se
nas transparências dos alagados,
como silhuetas contornadas
entre mutantes dunas
e longos braços espraiados.

Cada partícula é um rincão...
Enriquecido de enobrecida magia!

É a ilha... De infinitas fantasias,
num arquipélago que se agiganta,
protegida em casarões e fortalezas,
mas que convive com a singeleza
de nativos em casebres
que ostentam suas redes
a acolher com gratuidade,
como o deleite do afago
do debruçar da onda
que vê-se esparramada
em afortunada e incansável orgia.




É em teu seio que eclode
a evolução secular,
                       que a seu tempo,
emerge em causos e cantorias,
                a perpetuar
histórias de além-mar,
a não desvanecer a lembrança
de manter a essência natal...
Herança que permitiu miscigenar...
Mas manteve única e intocável
                            a genética ancestral.

Terra propícia à fertilidade
de prover de realismo absoluto
a intenção de incorporar
                            cada causo, ou conto,
imbuindo de íntegra
aquele que faz mostra inteira
do intento de ser sua terra
                                   a mais bela...
E a mais hospitaleira!












AVESSO CAMINHO



A atitude de conformismo
                    inibe iniciativas...
E permite a estagnação
de um movimento interior
em direção a um pré-traçado fim.

É daí resultante
a inquietude do ser...
Que avesso à própria vontade,
é submisso a tal confrontação.

Ao desdizer-se...
Cala uma possibilidade.
          Há o aguardo
da probabilidade passível
                                    de ser realização!












SEM O FIO DA SERRA



A serra que emudecesse...
                Não defloraria copas,
                nem exporia a crosta
                ao ignorar queimadas
                que acrescem clareiras!

Ao invés de afiados dentes...
                  Germinassem sementes
                  a revestir com urgência
                  desavisadas clareiras
                  da maléfica conseqüência!

Sem o estrondo do tombo...
        Haveria a insistência da vertente,
                          a liberdade do córrego
                                                  de ser parte
                             de um afluente!

Sem fio... A serra seria ineficiente,
               e a proeza de um broto
                 seria inalterada continuidade
                            do dom precursor
                            da doadora natureza.






ACORDO DE ACORDES
                    

Sou um aguardo
a cada acorde...
Uma resposta a todo entoar!
São aguardos providos de ânsias...
Sou fomento pra cada olhar!  

Sou incontido ao escancaro
das essências do teu riso!
E dedilho a eufórica partilha
em libertina profusão sonora
que a viola faz dispersar!

Sou inquestionável
ao desmedir em reticências...
As intermináveis possibilidades
de cada encontro de bar!

Sou violeiro...
E tenho cada ouvido como par!
Sou parte de um todo,
pois me encontro em todo olhar!

É só dedilhar...
E ser sorvido em cada gole
das bocas que contemplo nesse bar!





INCORPORAÇÃO
               


Na banqueta afino cordas...
E tu olhas pros ponteiros.

A cada corda que dedilho...
Sorves goles até um devaneio.

Tenho os olhos atidos na viola...
E tu vês a porta com aflição.

Minha alma é inteira extravaso...
Tu só percebes teu coração.

Confisco tua pretensão imaginaria...
Enquanto soletras pra tua amada
                                       minha canção!

E entre a ressonância de graves
e o retinir de agudos...
Sou fragmento da tua intenção!










DESOCULTAR-SE



Não me acovardo!
É só um tempo
de haver resguardo
a desvendar a dualidade
ao olhar-me como um inteiro,
revelando nesse contexto
toda própria veracidade
até ser convicto, ou difuso...
Mas sem anteriores
                   interferências,
ou preferências futuras!
















RECIPROCIDADE



O latido...
Faz o homem estar advertido.
Há de haver algum perigo
no sonoro instigo
em resguardo de casa e quintal,
ante a visita de um mandrião.

Se amigo,
abana faceiro e requebra...
Se instigado,
faz mostra da farta ossada
da pontiaguda mordedura.

O cão fiel
não por acaso é amigo.
Há que ter bom trato...
E o tempo que lhe dedico!












MÓRBIDO AGUARDO



Ficam prostradas, em despojo,
armas, armadilhas e artimanhas...

E me acoberta uma mansidão...
Mas é mórbido o aguardo,
e inquestionável o avanço,
contínuo, mas disfarçado
em rubores indefiníveis...
Será o fatídico desfecho?

É uma ânsia incontida!

Só o conforto da poltrona
acomoda a angústia de supor...
            Se permanência...
Ou possibilidade de partida!












DESPEDIDA

            


Na entrega, confessa...
Num afago
acolhe o rosto amado,
               e balbucia...
Declara... E permite
que o amor aflore.
E chora...
É ausência o que sente!

Dissipa a dor da saudade
quando quieta se abraça,
e encolhida disfarça...
Foge do tempo que passa!

Vê a hora vencida,
mas sendo intensa...
Não imagina a partida!

É um afável confesso
que balbucia ao aflorar a ausência...
E abraça... Disfarça...
Mas há esse tempo que passa!







IRRIQUIETUDE DE REBENTOS



Não é rebeldia
o sobe e desce incessante,
a queda em tropeço casual
e o tombo conseqüente...

A laceração é o resultante.

A lamentação... Interminável!

É só insistência
de ser incontida a energia,
desigual para cada qual,
                   a euforia dos rebentos!
















DIFERENCIAÇÃO



O lapso de um tempo...
                É a desproporção
entre as duas intenções,
que ante a abrupta descoberta...
Intuitiva, agride... Ou choca-se.

Mas se a fração se alonga...
É o tempo preciso
                     a uma atitude pensada.




















INVÓLUCRO DE UM ACOLHO
                 


A proximidade do afeto
                                cala o choro,
                                distancia a fobia
de sentir possível
                   uma suposta carência.

Exige a permanência,
como se em tubérculo,
                  invólucro de tatos protetores  
                                       ao rebento
no recosto de um seio
                      que se molda
absorvendo calor e afago,
que com intenção única
        assegura ser só seu
o instante que perpetua
o mudo acalorar do colo da mãe!

Cada qual aconchego
            que vara a infantilidade...
                               É único em si!

E num inteiro contexto...
    Conduzem ao entendimento
de estar aquele rebento protegido.




A UMA POETISA


Vês-te contida...
Mas almejas a dispersão incondicional
                              do versar...
E ser um doiro teu raiar,
intenso e permanente,
que adormeça a possibilidade
do entardecer vir a ser teu algoz.

És tal interminável reticência...
A ver os imaginários murmúrios
serem um audível e extremo clamor!
E noutra ora és o verbo irrequieto,
a se flexionar incansável,
até que apercebido o manancial
que te provê dessas iguarias...
Até seres inigualável poesia!

Fazes adormecer a megera mesmice
ao alvorecer cada audaz almejo,
e num rompante, já não és clássica!
Transpareces em versos libertinos
                                refletindo ensejos...

É tua singela e instigante inquietude
em clamores transcritos,
enobrecidos de inteira razão,
ausentando de ti a inconstância...
Ao serem eles... Pertinente intenção!


GEADA



O orvalho gélido
embranquece copa e pastagem,
enquanto o bafo aquecido
expele a contrariedade
e persistência do gado,
que imóvel, aguarda
o degelo permitir o apascento!





















DELONGA DO SONHO
                    

Há um gesto de sobriedade
que impulsiona a tresloucada mão
em ousado extravaso
a expor a inquietude intensa,
que mantida em tal obrigatoriedade,
como se contemporâneos padrões,
fossem o ferrolho empecilho
ao futurismo de poetizar...
E ora vêem-se em clarividência
oportunizando a partilha
de versos, e dos sonhos
da moçoila, até que mulher,
que num rompante de um gesto
encheu de luz a gaveta,
e um universo com poemas,
libertinos e encantados,
saltitando dum anonimato passado
à transparência de um amanhã!

Só um único gesto, e teu,
permitiria tanta transparência,
ao rebuscar em tal profundidade
tão idônea identidade!

Grilhões jazem aos pés do móvel
que juntos impuseram tal prisão.
Vista-te do alvo véu, acariciando
a possibilidade de seres ainda...
Aquela mesma e linda mulher.


PÉ-DE-VARAL



O pé-de-varal,
sofrida meia cruz de uma lida,
alquebra ante a insistência penosa
de escorrer pingos fio afora,
num desfraldar diário
sob a leveza de uma ventania.

É afincado fundo,
mas enverga fio e pau
com a insistência da Maria...
De fazer uso do varal!


















INTRIGAS NO COMEDOURO



O cômodo do comedouro
suporta a revoada barulhenta
a cada manhã, ou entardecer.

Famintos chegam, e em algazarra,
anunciando cada pouso,
até suster a interminável fome,
ao abrigo do acoberto em oferendas.

São insistentes pios de pardais,
de grulhos de rolinhas
com asas em riste,
de pedintes e negros chupins chorões,
de nervosos e barulhentos pardais.

Todo pouso é ousadia
de arremeter-se ao acaso,
espantando um ou outro
com as asas eriçadas e em rodopios,
garantindo o possível direito
a uma mesma farta oferenda!








RESGATE



Prostrada... Ante o infortúnio
de ter sido a castradora,
a gaveta arqueada pende,
permitindo o desvelo
à incumbência mordaz
que pensou resguardar a donzela...
Ou de ser seu desnudo
uma atitude banal.

O engano foi mesmice,
contrária ao libertino sonho,
que até um tempo... Aguardou!
Mas manteve intacta
a alma e o esplendor
da donzela a ser vista desvelada!














CANAVIAL



Pé de cana enfileirado,
enraizado cresce esguio...
Abraça o chão costurando...
Cada raiz é feita um fio!

O vargedo é visto veludo,
se tapete enchendo um vazio;
Todas as folhas de verde opaco,
abanando a quem fez plantio!

Entre touça e veludo desfraldado,
que abana com a brisa num chio,
tem o caule longo e eriçado
guardando em si o sumo com brio!

O casco é fibroso em resguardo
de ser o sumo seu galardio;
Em álcool e açúcar é refinado...
Rico como alimento,
e sustento de pavios!









FOI RESGUARDO



Poemas acomodados...
Retalhos de vida inteira
ao sigilo da gaveta,
resguardados ante a possibilidade
de medrar a interpretação...

Líricos...
Ante a libertina clarividência
(se aberta à gaveta),
havendo a vulnerabilidade
dos transcritos versos...
O desnudo inusitado
                      da juvenil paixão!

  














SEMPRE... É FUTURO!


Sob o abrigo da primata intenção,
que em grafismos rudimentares
fez inserção no incontestável tempo,
fendendo a pedra com pedra,
a marcar a futurista descoberta,
disfarçada em rusticidade
é permanente e ríspido atrevimento
de varar e vencer o tempo.

Vê seu intento
em um acaso a descoberto...
Ah! Se visse o tal primata
a euforia instantânea
a divulgar em telas a pasmar,
os intrigantes rabiscos
com suas arriscadas intenções...

Louca linguagem
a demarcar o elo rudimentar
do medrar solitário da caverna...
Até um ensurdecedor futuro!

E em cada tempo,
cada um pensou estar maduro,
continuando cada qual a marcar...
Acreditando haver ainda...
                                      E sempre o futuro!



AUTENTICIDADE


O afloro dual dos traços
frisam a intensa adversidade
na estampa de um mesmo rosto!
Contrastam a mansidão...
Com o escancaro em um revolto!

Sendo cada qual
o marco que define
a identidade ser única e autêntica.
Sem que denote essa transparência,
                                 ter aquele,
                  dúbia a personalidade!


















ORATÓRIA



Angelical se posta,
e exala candura
em suposição de perfilha,
libertando do íntimo
a virgem lágrima
a varar afora no rosto,
indo depositar no genuflexo
a intensa fé que em si esculpi.

Ora emudece...
Ora em pranto silencioso implora...
Mas ainda assim é em si ausente
qualquer traço de possível agonia.

É cheia de graça...
A me enternecer a constrição
que transfigura a estampa,
a não se ver em olvido.

Discerne ser transitoriedade...
E vê-se sem culpas a retornar,
sublimada, crendo ser dádiva
                        o benfazejo sopitar!






INSTANTE REBUSCADO



Aqui, não te trago.
Mas num lapso te encontro,
                                despojada,
alheia ao assédio
do flerte audaz de um outro olhar,
                  que permissivo,
desentenderia as artimanhas
da tua predileção de aquietar!

Há de ser em qualquer tempo
de uma fração imaginária
que irei te rebuscar,
até seres...
Só meu o pretenso querer!















CONTENDA DO VIÇO



O viço interno
que aflora irrequieto
em instigantes transparências,
tem a particularidade única
         de ser acolhido...
Despojo em exuberâncias
                 que imperam externar.

É infortúnio atê-lo,
e num acaso silenciar
sua euforia pré-suposta,
                        amadurecida no alento
de ao transcender...
     Ver-se a iluminar!















EUFORIA DO OUTONAR



É final de outono,
de gélidas instigas
em intermináveis ventanias...
E do acoberto esbranquiçado
da insistência da geada.

Despencam folhas avermelhadas
                         tingindo toda a cercania
ao sombreio de galhos eriçados,
e ali, a um tempo de permanência
           enrolam a cor,
retorcidas e pardacentas,
desfragmentando-se nos passeios
sob o tal instigo insistente
e gélido das ventanias.














ALGODOAR DA LIDA



Há dias que são de invernar...
Quando só a rede aplaca,
                       em acoberto,
                  as dores da lida,
desnudando induções...
Ali traduzo dissabores...
Desvendo conjunturas!






















ACUIDADE DE UM VÉU



Esvoaçando ao movimento,
contrasta da direção do passo
e enevoa a fronte,
induzindo ser impenetrável
a sutileza daquele olhar.

Encobertos os contornos
que atiçam a imaginária cobiça,
pois sem a exata medida,
pressupõem comparativos acertos...
Ao delinear o suposto contexto
contido sob aquele véu.

















DESNUDA ALEGRIA



Pés travessos e empoeirados
vasculham despretensiosos
o campo de chão batido,
um terreiro ao desuso,
que faz-se o alegórico deleite
das surradas peladas.

Bambus arqueados
e apodrecidos pelo tempo,
são demarcações arqueadas
que denotam as linhas do gol.
Mal suportam a algazarra
da façanha da passagem
pela linha traçada
pelos desnudos pés em arrasto,
indicando ser o fatal demarco
que debandaria em algazarra de gol.

Em tempo algum morreria
a lembrança da bola
furada e vazia,
que no baldio, parecendo agonia,
passeava entre os desnudos pés
dos meninos que sorriam!



     

LEDA LÁCTEA
               (O PASSAMENTO)


A suntuosa magnitude do Espírito,
que transcende imaginárias linhas
e extrapola definidos conceitos,
direciona com visão retilínea
a ascensão imposta á alma
que liberta, desfralda
a imensurável incógnita
de ser imaginária continuidade
o passo que doa ao jazigo
o corpo desflorado de alma
que cala ante a frieza
                            daquele abrigo...
Mas acende-se a essência
que, daquele desgarrada,
          é inusitada Láctea
a esfraldar sob um olhar confidente!

Não és gêmea
              de outra alguma.
Agora, és poema próprio!
                   Único e refletivo.
Aquele que sem esse teu aparte...
Nunca haveriam de declamar!






RETOCANDO



O brilho a se esvair
definha a lisura dos traços,
denotando angústias
de uma possível insignificância
ante o desdenhar da tua entrega...

Mas se ergueres teus olhos,
bastando a altura do horizonte,
verás quão infinda
é a métrica de possibilidades
esperando pela audácia
de teus passos descobridores,
sob um olhar astuto,
que personifique a persistência
de inovadas oferendas...

Até voltares a acreditar
poder teu novo mundo colorir!










OUTRO PASSO



Cada passo é ousadia
quando se sente o cansaço
e impera a exigência do renovo
a injetar ímpeto nos passos...

Imposição do espírito desbravador
ante a fragilidade do corpo
a se permitir a continuidade,
olhando além de si mesmo,
em traçados inusitados
e de esperançosas venturas.


















SE INEXISTIR O VÉU



És afoita,
      se protegida pelo véu...
Mas se te despes,
         te encontras com medos
a demarcar o delineio
de uma suposta limitação.

Há que se apostar
       na possibilidade
da idade se desmedir,
e ver-te refletida num aurorear
                 libertino dos egos,
e desprendida... Prosseguir!
















DEPOIS DE TUDO



Se apreensiva...
Inda assim não te arrependas.

Ressalve o conteúdo
que de ti emanou
na transitoriedade daquela paixão,
e faça abrigo na fortaleza
que ao tempo se erguerá
se permitires o afloro
das transparências
que escondes sob esse véu!


















REVOADA



Entre um momento teu
                    de constância...
E outro de ser pertinente
a intenção de um vôo...
Eras a visita,
num pouso, inquietante e difusa!

Apedrejavas teu desejo...
Mas mergulhavas no visco
de um fulgurante gozo...
Que sob a cadência dos ponteiros
irrompia em absurdas promessas!

Transcorrido o círculo do ponteiro,
                                                e do gozo...
                             Não mais!

Perpetuavas nas entranhas
a eloqüência da entrega
                           ser incontestável...
Mas repudiavas a promessa
de haver continuidade...
Ou ser a entrega eviterna!






PREDILEÇÃO


Tenho a predileção
que ao esparramar o verso,
seja com o grafite,
em folhas soltas,
sem grampos ou colas,
livre de presilhas
que o atem a obrigatoriedade
de ser contínuo ou interminável.

Prefiro o descarte
e a reconstrução,
a ater-me na insistência
submissa e demagógica,
e ao risco de tornar dúbio
o verso nascido da lisura
de um momento inspirador.

De folha em folha
o verso cumpre a intenção
ao ver-se transcrito sem rasuras,
emendas, ou casualidades.

Verso apercebidas veracidades
sob um grafite persistente...
                              Que se doa! 





CONFIABILIDADE



Aquieta-te,
e apascente em teu seio
a plenitude de amar
o irrestrito Cristo,
que todo se faz doar...

Que é conhecedor das dúvidas
que não ousas compartilhar...
E aceita tuas escolhas,
te assentando onde é teu lugar!

Afasta-te
da predileção a vã palavra
que dissimula culpas,
mas enegrece a estrada
que te conduz ao entendimento
do prodígio de um retorno
aos braços da verdade!











CONSTRUÇÃO



A edificação sólida do abrigo
desdenha da construção do verso,
ao ter assentados os tijolos
e ver-se atado a laje...
Pré-supõem a durabilidade.

Enquanto o verso...
Ata-se a idéia
e vê-se poema...
Crendo ser perpetuidade.

A edificação sugere seguridade...
O verso é inteiro gratuidade.
















INCONSTÂNCIA



A suposição ditosa
de partilhar a evidência
de se inserir no pacto
que vivencia a tal paixão,
induz o ego a sublimação...
E cego,
desprovê-se de artimanhas
e desapercebe ranhuras,
                              inconveniências...
                              As tidas sutilezas!
É o porvir
   de desavisos do desenlace!

















VISLUMBRE DO ALTO VALE


A trilha cerceia o recosto da subida,
que montanhoso, ladeia o rio...
Que caudalente faz-se impetuoso!

O remanso pras pernadas ofegantes
submetidas ao íngreme esforço
é o vale que floresce...
Ali... Toda história se enaltece!

Serra acima o choro principia
onde vertem ocultas nascentes
que se doam a afluentes
em declínio barrento arrolhadas!

Abrigo da rusticidade
de peões a conduzir manadas...
Passarela de toras e taboas serradas
das cercanias de outros rincões!

Terra de bom presságio
que inteira se fez cultivo,
ao alento do adágio
de ao imigrante se doar!

Cada afortunado quintal
vê-se em premiado celeiro...
Até o alagado, que vasculhado,
é obra nas mãos de um oleiro!


A inabalável fé que se apregoa
                               é uníssona difusão...
Em cânticos que em coro ecoam
da monumental Matriz ao vale...
                                 O inteiro porvir!

Calaram a ferrovia
ao blefarem pútridos dormentes
que sustentavam a ousadia de trilhos,
e o saudoso chiar do apito do trem.
Só não calaram o interminável grito
do homem que vence a subida,
e ante o próspero vale se detém!

Artesões lapidam o tempo
como se o último a gerar
a ousadia do intento primeiro...
Desse vale habitar!

Ali abunda a fartura
advinda do cultivo
a ser farto trato...
Foi sujeito a calosidade...
                      Mas que não sucumbiu!
É atrevimento latente e primórdio,
visto no adentro do vale,
que entrecortado por um rio...
         É do sul!


              Um olhar que por ali passeou!


SACIEDADE DA ORLA



O olhar alcança a orla
em contínuo avançar de marolas,
espraiando num colo,
como se ali findasse
ou iniciasse o compromisso
da orgia de enrolar-se
num lapso diminuto,
e em outro estirar-se...
Até o retrocesso
mostrar-se na úmida areia,
a juntar-se a outra marola.

Mas jamais ver findado o beijo,
mesmo se serena, ou intensa,
a instiga de uma tempestade...

O olhar...
É um perpétuo desejo
que saúda o acolho
a essa obrigatoriedade!








SANTA ESTATÍSTICA



Manifestos pacíficos...
Pacifistas sob protesto...
Ignora-se a fragilidade
ante a ferocidade absurda
advinda da impunidade
que encurrala o apelo punitivo, enjaulando em suposta seguridade
outros, que sob as mesmas penas
e leis de salvaguardo,
vêem-se reféns de uma trégua,
ou no aguardo da fatalidade.

O desarme só enaltece
a incidência de um risco
ao acaso num gráfico...
Sem que aflito aponte
a tragédia impune,
o tráfico camuflado,
a cela apinhada,
o descaso do socorro,
o corrupto suborno
que cega o olhar que se omite,
e insiste: JÁ ERA PREVISTO!





COMO SE PLÁGIO



Sou teu olhar aguçado
que não ousou o manifesto
de sua têmpera, que omissa,
tornou o verso inascível...
O aguardado declaro!

Exclamas ao vê-lo ali estampado,
idêntico ao teu fecundo olhar;
Mas ignoras a reação do manifesto.

Declaras-te apaixonada...
Contenta-te apercebê-lo
no verso de outro,
mesmo tendo o teu feito calar!















APARTAR O PÓ



Cachoeira teu enrosco
                      abrase meu ardor.
Sinto a dor dos devaneios
           ao voar de colo em colo...
E todos chamar de amor!

Trago a estrada libertina
             pras tuas águas cristalinas...
Lave o pó dessa viajem,
          pois já não sou o estradeiro...
De que me importa tal bagagem?

Viajei de colo em colo,
cada qual chamei amor...
Mas o engano dessa estrada
         cala só ao teu frescor!

És o doído renovo
        que aparta em arrolhos
     de olhar tão cristalino...
                      Cada mágoa...
                      Qual acolho?







ENTREGA TOLHIDA



Tu vês o tempo passar
              de freio puxado,
              com a alma na mão...
E mesmo querendo se dar...
   Tens que estéril ser!

Mas eras o fértil chão,
e não quiseram te arar.
Não foste adubada ao plantio!

Sem estar inserida,
         não viste o crescer...
                             Ou amadurecer!
Tolhido foi o teu prazer
                 de ver tanto amar
                              em algum fruto
                      poder se oferecer!

Não te permitiram
         sentir o sabor
                        do salutar sorver...
                       De ver-se entregar!
E tens que esperar que o tempo...
   Tudo possa mudar!





APREÇO DE UM AGUARDO



O profundo suspiro...
Um exclame de saudade
                          a exalar dos lábios,
                                            como da rosa
                                            vertem odores...
                           Difundindo convites...
                           Expressando apreços...
                          Cobrindo de zelos!

Findo o aguardo...
             O exclame emudece!
Foi essência exalada...
       Relegada a um suspiro!
















CANTO DE SEMEIO



Tens o terno olhar
              que tateia meus versos,
e nem percebes
que esse teu gesto
        impulsiona o canto que verso...
E me fazes poeta!

Enriqueces o universo
do canto que nas cordas dedilho
cada verso que expresso...
O intento de estampar teu brilho!

Se num afago
     dedilho as cordas...
                     Te dispo inteira!
Meus lábios se inquietam
no declaro que proseio...
Plantando em ti amabilidades
sou semente do teu anseio!










ANSEIO DE ESPERA



Se aqui vens...
Encontras vinho e rosas!
Mas é de mim que sorves sabores.
Aqui tens...
A quietude dos teus amores!

Se te espero...
Sou o anseio do teu colo!
Espalho esperanças no assoalho,
cubro-me de enfeites...
Sou teu inteiro agrado!

Se não vens...
Inquieta-me a alma,
e vejo a estrada...
Mas não desejo ninguém!













PRIMÍCIAS DE POETAR



Inseres em versos
                o rememorar de insistências
saídas do invólucro
                    que acerca teu ser!

É puberdade de poeta,
                           aflorando,
até que apercebida
       a consistência do querer!

Faz-se poeta peregrina...
Imigra, até encontrar
                 a alma confidente
ao seu clamor de amar!

É no todo um declaro...
Sem a rasura do medo!
É virtuoso teu olhar
a desvirginar cada desejo!

Cada verso em ti se inquieta!
É excitação da probidade
                        a complementar
                           tua inteira poesia!

                                             



AINDA...



Era ainda um menino
a espiar teu revelo...

Rosavam lábios e pele
ao aguçarem sentidos...
Murmuravas ao arrojo
                            de cada sutileza
alojada no entremeio
despido de couraças...
Quando dizias me amar!

















ENTRE VÔO... E POUSO



Nunca te vergues
ao inconformismo do corpo
se a debelar-se entre seu desejo
e o ensejo de sentir prazer.

Nem acalentes a suposição
de sentires só satisfação...
Pois entre o enleio e o despojo...
Haverá um prematuro adeus!

Tenhas o olhar perspicaz,
que entre alma e corpo
encontre um ponto
que equipare teu desejo...
Quando advinda à lassidão!

Tenhas só a incumbência
de pesar teu arrojo incondicional...
Atentes a transparência do enleio...
E não seja tua entrega desigual!

Ame o sonho que acalentas...
E te cubras de paixão!
Solte rédeas, arreios, e cavalgue...
Mas não te desprendas de um chão!




DEBANDADA NUM REVÉS



A angústia de um revés
                       fomenta a incoerência
que transforma a solicitude
em nebulosa descrença
a decepar o broto inquietante,
em juras de um dia amar!

É desconforto pra alma
o contrariar de tais venturas
ensaiadas em inocentes traços
de juvenis pinceladas...
Até parecer se figurar!

É maldito todo revés
que tolha a infinda possibilidade
que alcançaria um olhar,
em espreita da delícia de audácias
que permitissem inovar!

É como se a íntegra de um útero
fosse destituída da possibilidade
de ser acolho de um feto,
que chora tal permissividade...
E ao acaso desse revés...
                      É abandono!
  



VESTIDA DE PROMESSAS



Te vestes de surpresa...
                  Pra ser inesperada proposta!
Acolhes com euforia redescobertas...
Tens apresso a uma resposta!

Abres portas de céus...
                           És infinda e desmedida
                                 entre o colo
e o aconchego de seios!

É sedenta tua ansiedade...
Com probabilidades de ápices
fundindo em trocas,
                    como promessas...
De o êxtase ser supremo vislumbre!    














INUSITAR DO VERSO



Sou um verso em dissidência
ao poema abtruso,
                     a se ater
ao cabresto de obrigatoriedades,
contendo-se entre números e formas,
                         mesmo havendo nele
outras incontáveis possibilidades!

Solto amarras do tal ancoradouro,
                              e só persigo brisas...
Sofro o instigo de vagalhões,
                              e o rasgo de corais...

Mas avisto gaivotas audazes
                       em elegâncias de vôos,
que em estridentes pios
        indicam haver um remanso...
Um porto que dista daquele,
       que permite outra poesia aportar!










ARRIBA DE SÃO PAULINO


O homem imprimia aos passos
afundar a trilha a fazer roçado
pro semeio que levava...
E gratuitas dádivas ele trazia!

A terra que carpia
abastava-lhe de trato
que ao suor se oferecia!
E em seu lombo descia,
em pencas, a banana
que era ceia de todo dia.

Magro e surrado
levava facão e enxada:
Um que deitava mato...
Outro, que o roçado carpia!

Tinha sede da noite
que aplacava o cansaço
que da serra trazia.
Lá, arriba do rancho,
fazia nos flancos plantio,
onde clareiras abria.

Ascendia fogo
e tratava galinhas...
O olhar... Perdia nas brasas
que o aipim cozia!


PROESAS



O cio não cala...
           São gorjeios despojados
                   de pagas à um canto
          que aflora ao clareio
          a dádiva de outro dia!




O galho pende...
E o céu cede
um espaço infinito
                       a cada que pousa...
                      Ou daquele que ousa
                            bater asas e voar!











MIMOS’IDADE



A vida se recria
na vicissitude de teu olhar
à casa de brinquedos
em que plantas teus bichos,
no pequeno mundo teu!

E nele traças enredos
   (indivisíveis segredos),
até a mocidade vir te alvoroçar,
sem que te assombre um medo,
pois acrescem em ti credos
que teus pais, em zelo,
apontaram ser retidão!

Louves a graça desse lar
                que te acolheu
(fostes prematura esperança),
até seres exposta ao instigo
de seres como um fruto...
                Amadurecida!

É a vida que te acorda
pra infinita proposta de exclamar
a todo precioso instante,
que repleto de euforia e encanto,
vem por si te completar!


ARTIMANHA DO ARIGÓ




O arigó empunha a maceta
sob o abrigo rústico da lona
                       (como se cabana),
acomodando-se de cócoras,
plantando-se ao tamanco,
e curvado equilibra-se
ao se atar determinado ao punção
a desenhar um risco
em alinho ao veio...

E ponteia o abrigo da cunha
que recebe o embate
do estalido da maceta,
partindo-se ao desejo
de talhar rebarbas e sobras
em cada uma das pedras,
como se cada delas
fosse arte afinal!










RONCO NA SERVIDÃO




O toco traçado
ronca nervoso servidão acima...
E na clareira se esbalda
a encher a caçamba
com as pedras talhadas...

O toco traçado,
              já carregado,
             desce aos arrastos
                         arrancando terra,
                         transpondo erosões,
até alastrar faceiro
seu ronco baixio afora,
                     na estrada geral!














HERDAR UM PASSADO




Há mil formas teóricas
de criações, de outrem,
que se adiantou de mim...

Impondo crenças...

Carregando medos...

Mortificando egos...

Calando desejos...

... Que se deles me desgarro...
              Serei o dito bastardo
                            que contarão de mim!




















O ser inteiro abranda
se enxerga a possibilidade
de amanhã...
      Alvorecer!

Procura o abrigo da esperança...
Quer agora a bonança
do abraço que prometa
                     só sobreviver!















APREÇO DO EXPRESSO



Oprimo meus passos,
e me apresso a primar os versos
de apreços que expresso...

São pompas a orgulhar
o esmero ao versar
                   da alma
                        (como se ventre)
almejando procriar!

São versos sem a imposição,
pois há o tempo de os abolir!

E expresso como a mãe
que anseia o rebento
em seu tempo de parir...

São transbordos de aguardos
a noutra página se inserir!










DEVERIAS...




Deverias ter permanecido
mantenedora de meus anseios...
Enraizado tua febril paixão
em nossas fendidas profundezas.

Deverias ter resistido
a febre de outro colo...
Ou de uma boca qualquer.

Deverias ter me preferido
à desistência de inovar.

Levaste só lembrança...
E deixaste a terra por plantar!














INTENÇÃO




Fui amor teu...
Com a indiscutível convicção
de naquele tempo
preencher inteiramente a lacuna
                      (descabida e ardorosa)
sedenta de cumplicidade,
com o amor meu!

Fui à intenção tua
       ao dar-me inteiro...
Sem a promessa
          de o apego ser eterno;
Só desejo de continuidade!

Fui à promessa
           que se cumpriu num feto,
a dar-te o direito
de seres contínua frutificação!









AGRADO




Os braços aguardam o acolho
                     das pretensões
 de teu abraço...

O colo fervilha ávido,
            ofertado a sutileza
com que roças minha pele!

Os lábios segredam agrados
ao encontrar desnuda tua intenção!

A alma é passiva ao encanto
apercebendo delicadezas
                           ao ser teu amor...

Cada gesto é saciedade
                       de artimanhas revestido
                       a um inteiro despojo...
                      A ser agrado meu e teu!









APORTO DE SUSTER




Vejo-me lânguido
e submisso ao enrosco
da boca com bicos de seios...
De mãos com coxas...
Até que encontro fatal!

Sou mortal...
Mas sem a hipocrisia que desminta,
e sinta tal ardor ser banal!

Sou tal âncora,
e sustento teu aportar...
Sou a marola que te embala
até ver-te sossegar!













FALTAS



Ao tempo de recomeço...
Ditei só enxergar a imensidão
da interminável estrada
                                  que conduzisse
a inteira satisfação...

Que indicasse toda possibilidade
                             de cada bifurcação...

Que medisse distâncias
                          da tua aproximação...

E percebi, no entanto,
                    a ausência da atitude
que ditasse a mim a constância
                        da tua permanência!
 




















Ao rever meus anseios...
               Sou a alma pedinte,
                                      em aguardo
do alcance de uma mão,
                      que estendida
é oferta de gratidão
                a um pedido de abrigo,
e da necessidade de perdão!

















Sem haver desleixo,
         nem conformismo,
inda assim percebo
          a imposição de se ter
             exuberante a aparência...
Essa, que nesses tempos...
                    Esvai-se de mim.

Então, o amor próprio,
              já não mais é
                           tão próprio assim!




Há pra tudo...
      Um início!
E por meios...
   Chega-se a um fim!
Quer pra ti...
Se pra mim!





MANIFESTO DE FÉ


Se não tivesse ousado...
Não haveria o enredo.
Seria o espaço inalterado!

Se não houvesse dito...
O peito manteria encerrado
o manifesto do grito!

Se não tivesse voltado...
Teria continuado,
mas jamais teria sabido!

Se não penasse cada perdão...
A tal (o contexto de um livro)...
Não me permitiria!

Mas há o alento
do volver do olhar
que apercebe faltas...
Mas mantém a fé
de ousar se inserir!   




ÍNTEGRO TOQUE


Lindas luas...
Ávidas de olhares vagueiam
espreguiçando prata e sombra,
                               a permitir sonhos...
                              Ou proibir mostras!

Melosas luas
                 deixam-se banhar
                 por intrusas tangências,
a escaldar sob o doiro
                      numa rota imposta
em um eixo rotineiro!

Inda assim... Pra sempre lua
de pálido prata ou mel,
a permitir imaginar ser possível
a ousadia sutil de meus dedos
ante o sonho de tocar-te!












ANSEIO DE SEIO


O rebento reclama
a falta da mama...
A fralda umedecida...
O colo que dali se ausentou.

Esperneia e chora até que afina...
Até que a porta se abra
e a figura pré-sentida a acolha,
entregando sob anseios o seio,
calando o choro,
cessando o esperneio
com a boca cheia do bico
a variar entre seio e seio!

















PROMESSA QUE PRINCIPIA



Estreitado laço
contido entre o aperto e o quarto,
enquanto a rua em polvorosa
urgia ao amanhecer do dia...
Ali ardia o primaveril acordo!

O gemido insinuante vazava na fresta,
a escorrer dentre as bocas roçadas
farta de ânsias, quase tardia.

Cada uma... Se única procura!
Extravasando paredes e horários
o convincente manifesto
da pioneira promessa daquele dia!















DA ESQUINA


Oportuna... Vistes seres a escolhida,
expondo tua submissão na esquina...
E acompanhas com o olhar
cada transeunte, percebendo
toda intenção que te mira,
em aguardo da provável investida!

A fartura... Só desfila...
São dourados aros de cobiça
perfilados na avenida...
Mas distam do alcance
                         da tua pretensão!

















BRAÇOS DA BONANÇA


Que o desbravar de teus passos
seja imantado de perseverança,
e que tua lembrança
retorne a trilha dos braços
que acolheram tua aflição...

Naquelas longínquas paragens
envolveram-te de bonança,
e até permitiram ser paixão!



















OPORTUNA VISITA


A lã tecida em listras sorria
ao proteger a magra figura
que todos os dias fazia-se notar
sempre que a porta rangia
e apitos avisavam ser já o meio do dia...
Quando eram largados apertos de lidas
e motores emudeciam...
Quando por instantes ruas e calçadas
ferviam em idas e vindas!

Trazia a face sombria
como se fosse recente a amargura,
e isso fosse agonia...
Na mesma hora de cada dia!

E saia levando consigo
o agrado de meias palavras
trocadas num instante miúdo...
Era sempre oportuna visita!

Sabia se vinha
quando os ponteiros se agrupavam
naquela mesma direção...
Quando o passo calava na porta,
mas seu cheiro vencia o umbral...
Quando a timidez dos nós de dedos
ousavam avisar a chegada, como sinal...
E de dentro partia em ânsia
o chamado do teu nome afinal!


BRADO DE VENTURA


Quisera...

Tal glamour não fosse findo
na angústia de um brado...
Antes houvesse o lábio
que atasse em beijo
a ruptura do entrelaço!

Quisera...

Não ardesse em ferida
a culpa da tardia partida,
protelada na esperança
do renovo no outro dia!

Quisera...

O choro da bendita cria
fosse tido um pedido enfático
a ser remissão da ventura
do amor ser contínua ousadia!













Sou feito verso
        de extrema leveza...
E sou a crítica incisiva
                              que delata,
            sem ser degradante.

É a estampa do homem
                               que fui,
       outra, como estou,
e ainda, o que só meu olhar
mudo e observador percebe!

Mas no todo há o apego
a convicta veracidade
ao conduzir estas aspirações...
Sem, no entanto, inesquecer
estar sujeito a carne e credos!














Falo de plenitude
enquanto aplaco dores...

Mas ouço e louvo o canto
daquele que como eu
insiste na crença
da possibilidade amanhecer,
e agradecer cada entardecer,
acreditando que adormecendo,
outra vez hei de acordar,
e acrescido de maturidade!

Mas incontido ante a vicissitude
de cada oportunidade!
















Aguarde-me... Como um sonho
                                           que vem...
E parte sem a promessa
   de voltar a te envolver!

Mas pense...
Que cada acaso de uma vinda
                possa ser um ultimato,
                                    ou um desejo
       que possa a ti me ater!


















Rasgado o ventre
                   a possibilidade de criar
um poema gritante
um verso a debelar
a fissura latente
de um visceral externar!

Oh! Poema bendito...
Bendizes a intencional razão
oculta, pois omisso fui eu,
e minha tremula mão,
temerosos da dor que laceraria
em tal sangria do verso!














UNIVERSO DE VERSO



Fervilha entre a sede de ser mostra
e a abundância imaginária
de ser a arma penetrante
de um entendimento possível,
o verso irrequieto
vestido de artimanha,
encoberto de razões incontáveis
mas indizíveis a um apressado olhar,
não ao teu contundente interesse,
revela-se como uma lembrança,
alegre e indisfarçável
clareando tua alma gratuitamente,
como se cada um deles
fosse teu próprio universo.















REFERÊNCIAS DE REGISTRO



ISBN 978-85-61930-02-8



PLENITUDE:
N:444.036 LIVRO: 833 FOLHA: 196

CONTINUIDADE DE PLENITUDE
N: 459.897 LIVRO: 865 FOLHA:86