sexta-feira, 20 de maio de 2011

Lançamento online , livro-RETORNO (inédito)

MINHAS RAZÕES







EU É QUE SEI DAS RAZÕES

QUE ME FIZERAM CHEGAR

ATÉ AOS ATOS ABSURDOS,

QUASE LOUCOS,

E O QUANTO FUI FELIZ

OU DESGRAÇADO

AO VIVÊ-LOS, E ORA DIZER

QUE É UMA EXISTÊNCIA.



NÃO IMPORTA AGORA

O QUANTO ESTOU

REALIZADO OU FRUSTRADO

NAQUILO QUE TENTEI FAZER.



IMPORTANTE

FORAM AS MARCAS DEIXADAS.

HOJE, AINDA AS VEJO, NÍTIDAS.

BOM É ESTAR CONSCIENTE

DE QUE OS PASSOS DADOS

NÃO FORAM EM VÃO.







DEDICATÓRIA



Em se tratando de poesias existenciais,

não poderia deixar de lembrar,

perpetuar, aqueles que há muito,

da sua forma e em seu momento,

pactuaram comigo essa existência.



O Pai ARTHUR, pelo exemplo de coragem,

humildade e dignidade.



ELVÍDIO e EVELINA, pelo perpetuado exemplo

de amor e carinho.



ACACIO e IRACEMA, pela bondade e

Simplificada sabedoria em dignificar

uma raça.



NABOR e DULCE, pelo sábio e carinhoso trato

do amor e á desinteressada

amizade.



As PESSOAS que em momentos distintos, comigo vivenciaram estes tão reais versos.



Ao mestre ADALBERTO, pela dedicação e respeito a minha pessoa e poesia.



A ESTAS FORÇAS, que sempre me permitem

levantar, criar e viver.



A RAÌSSA.







RETORNO









IMPORTA-ME É ACREDITAR,

NÃO NAS PALAVRAS

MINHAS OU TUAS,

MAS NAS SENSAÇÕES

QUE SE LIBERAM DE NÓS.

IMPORTA-ME,

NÃO O TEMPO

QUE VAI DURAR,

MAS A MARCA

QUE EM NÓS FICARÁ,

EM NOSSO JEITO

DE AMAR,

DE SE TER,

DE SE COMPLETAR.

IMPORTA

É NÃO TER MEDO,

CONFIANDO QUE ELE DURE

O QUANTO NA GENTE DURAR,

ESSE SENTIMENTO GOSTOSO

QUE NOS FAZ AMAR.

IMPORTA

É SE DAR O MELHOR,

ACREDITANDO SEMPRE,

QUE É O MOMENTO CERTO

DE IR A LUTA

E GANHAR...











EM QUE PENSAS,

QUANDO ME CONDUZES,

ACOLHIDO NUM ABRAÇO,

PARA TUA CAMA,

TUAS ENTRANHAS?



O QUE TE LEVA

A FAZER COM QUE ME TRAIA,

E ME ENLACE EM TI,

ENREDANDO-ME NOS TEUS BRAÇOS,

PEDINDO PARA NÃO SAIR

E PARA QUE NÃO ME DEIXES IR?



EM QUE PENSAS

QUANDO O GOZO TERMINA,

E OS CORPOS SUADOS,

ABRAÇADOS,

NÃO SE AFASTAM,

NEM SE DEIXAM IR?



E QUANDO O MORNO DA ÁGUA TE TOCA,

CARREGANDO CONSIGO

TODO TOQUE DE NÓS DOIS,

E A EMOÇÃO TERMINA?



EM QUE PENSAS,

QUANDO A PORTA SE FECHA,

E A IMAGEM DO AMANTE DESAPARECE,

ABRAÇANDO A TI MESMA,

COMO SE QUISESSES

GUARDAR-ME EM TI PARA SEMPRE,

OU ALGUM VESTÍGIO DESTE AMOR?



NUNCA PENSASTE NO PORQUÊ

DE SEMPRE SE TER QUE IR?











DE TANTO SE ENGANAR,

MEU CORAÇÃO DEIXOU

DE AMAR.

DE TANTO MAL VIVER,

DE QUERER, SE CANSOU

E SEM PERCEBER,

DESAMOU.



QUE ME ABORTE D’ALMA

O DESESPERO,

QUE O DESENGANO

POR TE AMAR

EM MIM CRIOU.









QUE VAZIO TRAZ AGORA

ESTA FALTA DE VOCÊ.

MAS EU SABIA

QUE FORÇAS NÃO TERIA,

SE DEIXASSE ESVAIR,

EM ATADA SANGRIA,

ESSE GOSTAR DE VOCÊ.

É MELHOR ENTÃO SENTIR

AGORA

ESTA FALTA.











QUE ESSE AMOR EXISTA,

SE TORNE MADURO

E NOS LIBERTE.

ABRA AS PORTAS

DE NOSSOS PRÓPRIOS CORAÇÕES.

DÊ ASAS AOS SENTIMENTOS

MAIS PROFUNDOS,

QUE GUARDADOS CONTINUARIAM SEMPRE,

SE NÃO TIVÉSSEMOS CRIADO UM ESPAÇO

MAIOR E MAIS BONITO,

QUE TUDO AQUILO,

QUE JÁ HAVÍAMOS

EM OUTRAS RELAÇÕES SENTIDO,

OU DEIXADO QUE SENTISSEM EM NÓS.

E O ESPAÇO ESTÁ AÍ.

NÓS O CRIAMOS

E O TORNAMOS POSSÍVEL,

NO SENTIDO MAIOR

QUE O DE TOCAR,

NOS SENTINDO PRESENTES

DENTRO DE ALGUÉM.









E QUANDO É NOITE,

SILENCIAM AS VOZES.

OS CORAÇÕES APENAS BATEM.

A BOCA CALA,

SÓ RESPIRA.



E EU TE OLHO

POR LONGAS HORAS

E TENTO IMAGINAR

AS ESTRADAS QUE TRILHAM

OS TEUS SONHOS,

OS OBSTÁCULOS

QUE FAZEM O TEU CONTORCER

E O QUE, ÀS VEZES, TE CAUSA TANTA PAZ,

ESSE RESPIRAR TÃO TRANQÜILO

E ESSE SORRISO

QUE TE AFLORA AOS LÁBIOS.



ENTÃO,

VOU AOS TEUS SEIOS,

AFAGO-OS COM CARINHO,

NELES ME RECOSTO

E TENTO,

DENTRO DE VOCÊ, ESTAR.











QUERIA SER EU

E NÃO A LUA,

A INUNDAR

ASSIM, TEU PEITO,

COM ESSA LUZ BRANCA,

AVELUDADA,

PASSANDO PELAS FRESTAS

DA JANELA ABERTA,

FAZENDO SOMBRAS

AQUI E ALI,

ACENTUANDO AS FORMAS,

O DESENHO

DOS TEUS SEIOS.

QUE BRILHO

ELES TÊM NA MADRUGADA

QUASE FRIA,

OS BRANCOS E DESNUDADOS

SEIOS TEUS.













ESPERO QUE O FATO

DE TIRARMOS A ROUPA

E ROÇARMOS NOSSOS CORPOS

UM NO OUTRO,

EXTRAPOLE O SENTIDO

DE FAZERMOS AMOR,

DANDO UM VALOR MAIOR

AO QUE TEMOS,

EM NOSSOS PRÓPRIOS CORPOS

SEPARADOS.











AOS POUCOS,

VOCÊ SILENCIOU A VOZ

QUE QUERIA TE ACORDAR.



TEU ORGULHO

CORTOU TODAS AS RAÍZES,

QUE TE FAZIAM CRESCER,

E ALIMENTAVAM TEUS SENTIMENTOS.



TEU EGOÍSMO

FERIU E DEIXOU SANGRAR

O SENTIDO DA VIDA GERADA,

QUE JUNTOS CRIAMOS.











AMAR É FUNDAMENTAL

PELO QUE RECEBES

E PELO QUE CRIAS DENTRO DE TI.

ESSA GANA TODA,

DESEJOSA DE TER PAZ

DE SE SENTIR TOCADA,

AMADA,

DE ESTAR COBERTA

COMO MULHER,

COM TUDO QUE ELE TRAZ

PARA ESTE ALTAR,

EM QUALQUER LUGAR,

ONDE SE POSSA

DE ALGUMA FORMA

SE AMAR.



TEU AMOR É ASSIM,

TESO COMO TEUS SEIOS,

FOGOSO COMO A EXPLOSÃO

QUE ESVAZIA A TUA ALMA,

DO MEDO DA SOLIDÃO.











SEI QUE AMAR

NÃO É BEM ASSIM:

ENTREGAR-SE COM RESERVAS,

POUPANDO A SI PRÓPRIO

DO ESFORÇO CONJUNTO.



SEI QUE O AMOR NÃO É IGUAL

PARA DOIS SERES,

QUE SE ENTREGAM

NA BUSCA DE ALGO QUE OS COMPLETE.



SEI QUE É A BUSCA DESMEDIDA

E SEM RESERVA DE ALGO QUE OS UNA,

TRAZENDO O SENTIDO

DE JUNTOS CAMINHAREM.



SEI QUE O AMOR

É TENDÊNCIA NORMAL

DAS PESSOAS,

COM DIFERENTES PROJEÇÕES,

PARA SE COMPLETAREM

E ATINGIR UM OBJETIVO FINAL.













ESSE INSTANTE SUBLIME,

EM QUE TUDO CAMINHA

NUMA MESMA ESTRADA FLORIDA,

EM BUSCA DE TÃO PROFUNDO ÊXTASE.



INSTANTE OPORTUNO

QUE SOLTA AS AMARRAS

E LARGA POR TERRA

TODAS AS CORRENTES

E FAZ GOZAR...



GOZO NÃO MENOS SUBLIME

QUE A PRÓPRIA PROCURA DO ATO

E DO SENTIDO DE AMAR.











SE TEUS MISTÉRIOS

NÃO FOSSEM TÃO PROFUNDOS,

NEM TROUXESSEM A ESPERANÇA

DE SEREM DESCOBERTOS,

NÃO LUTARIA TANTO,

NEM COM TANTA GARRA

PARA VÊ-LOS A CLARA LUZ

DESNUDADOS.



SE JÁ FOSSEM TRANSPARENTES,

POR CERTO, HÁ MUITO TE CONHECERIA,

E NÃO HAVERIA O ATO CURIOSO,

PESQUISADOR,

NEM TÃO POUCO A PALAVRA INCERTA

E O ERRO.











HOJE, O TEU MEDO

É INEXISTENTE.

FOI MAIOR O TEU AMOR,

MAIS FORTE TUA VONTADE,

O DESEJO

DE DESCOBRIR, SENTIR,

O QUE A VIDA É EM SI,

O QUE PODES FAZER DELA.



E HOJE CAMINHAS COM SEGURANÇA,

COM RAZÕES QUE NINGUÉM,

COM ARMA NENHUMA

CONSEGUIRÁ TE TIRAR.













ESSE TEU JEITO

DE FAZER DE TEU AMADO

UM ETERNO PRÍNCIPE,

DE OLHAR DE FORMA TAL,

LEOA-MÃE

A CUIDAR DO SEU FILHOTE.



ESSE JEITO

DE FAZER SER O MELHOR,

MESMO SABENDO SER FRACO

COMO TODO SER VIVENTE,

DE FAZÊ-LO SE SENTIR

GRANDE E MAJESTOSO,

A IMPERAR TEU BELO CORAÇÃO.











SE TODA PROCURA

EM VÃO TIVESSE SIDO,

E O PEITO FERIDO

DEIXASSE SANGRAR,

MORRERIAS.



PARTIRIAS PENSANDO

QUE O AMOR ERA ASSIM...



EM VÃO FOI A TUA PROCURA.

ABRIRAM-SE AS PORTAS,

AS VESTES

E A FERIDA,

NÃO MAIS EXISTIA.











CHORA TRANQÜILA...

ESVAZIA A ALMA

VAZANDO AO EXTREMO,

SECANDO O PRANTO

QUE QUER TE AFOGAR.



NÃO DEIXE A MÁGOA

FAZER-TE CALAR,

NEM TE DIMINUIR.



CHORA,

TEU CHORO SERENO...











NÃO DEIXES NUNCA

QUE SE APAGUE

A CHAMA DESSE TESÃO,

QUE NOS FAZ VOLTAR,

SEMPRE AO ENCONTRO,

DESTA FORMA IMPETUOSA.



NÃO DEIXES NUNCA

QUE OS MOTIVOS ALHEIOS

SE TORNEM NOSSOS,

E NOS FAÇAM RETROCEDER.

QUE EU ME DEIXE LEVAR,

SEM SER COM VOCÊ.



NÃO DEIXES NUNCA

QUE EU SEJA A ÚNICA CABEÇA

A PENSAR POR NÓS DOIS.

QUE O MEU CARINHO,

SEJA MAIOR QUE O TEU.



NÃO DEIXES NUNCA

QUE UM DE NÓS

DESENCONTRE DE NÓS DOIS.









AMAR É DEIXAR FLUIR

NAS VEIAS,

CHEIRO OU GOSTO,

QUANDO DOIS CORPOS SE UNEM,

E DAS EMOÇÕES EMANA,

QUANDO SE FAZEM ENVOLVER.



É BUSCAR EM SI

UM SENTIDO MELHOR PARA O OUTRO,

UM MOTIVO A MAIS

QUE FAÇA ENTENDER E ACEITAR

A UNIÃO COMPLETA

DE TANTAS OUTRAS DIFERENÇAS,

QUE DENTRO E FORA DO CORPO,

TENTAM SE IGUALAR.



É A PROCURA MAIOR

QUE BUSCA PREENCHIMENTO

NO SER HUMANO, DA LACUNA

QUE FICA ABERTA,

DE SER UM SER INCOMPLETO,

TENDO QUE BUSCAR EM OUTRO SER

O FECHAMENTO DE UM ELO.













QUE LIBERDADE QUE SE DÁ

DE SE DESPRENDER DO CORPO

O PENSAMENTO,

E SE PERDER NUM INFINITO

DE FANTASIAS CRIADAS

NUM INSTANTE SÓ.



QUE PESO TEM

CADA PALAVRA DITA,

GEMIDO,

CADA CONTORCER DO CORPO,

CADA IMPULSO QUE GERA

UM FEIXE DE NOVAS EMOÇÕES,

NO MOMENTO DA PAIXÃO.













ESSE TEU JEITO CRIANÇA,

QUE QUANDO COMIGO SE ENTREGA,

RECOSTA, ESQUECE,

BUSCANDO UM SENTIDO MAIOR

PARA TANTO CARINHO,

PARA JUSTIFICAR ESTE ARDOR,

QUE QUEIMA TUAS ENTRANHAS

E TE FAZ BUSCAR EM GESTOS,

CARINHOS,

NUM CONTORCER SÓ TEU,

O GOZO NÃO PREMATURO,

QUE VEM POR SI

E TE FAZ IR MAIS LONGE,

TE FAZENDO VENCER,

IR ALÉM DO HORIZONTE

QUE HAVIAS CRIADO

E QUE JULGAVAS EXISTIR.













QUANDO A RUA JÁ DORMIA

E A LUA TEIMOSA

A QUERIA ILUMINAR,

VIESTE MEDROSA

NA CALADA E NA PENUMBRA,

ME PROCURAR.

JÁ NÃO ERA HORA

DE TE ESPERAR...



QUANDO DE DIA TE ENCONTREI

E QUIS TE ABRAÇAR,

NÃO PUDE.



NÃO ERA HORA

DE PODER ACALENTAR

OS SONHOS,

DE AMANTE INOPORTUNO,

QUE EM MÁ HORA QUIS,

NUM ABRAÇO

PODER TE AMAR.













SE TEU CORAÇÃO TE TRAIR,

TENTAR TE ENGANAR,

COMO É QUE VAI FICAR ESSA PAIXÃO

QUE TANTO SE VIU CRESCIDA

E OS DOIS NA VIDA,

FEZ ACREDITAR,

DIFERENTE NOS OLHAR,

FEZ NOSSOS CORPOS ENTENDEREM

A MUDA LINGUAGEM DO TOCAR,

DO SENTIR,

NOS FEZ ENXERGAR TANTAS COISAS

DE TANTAS OUTRAS FORMAS.



SE TEU CORAÇÃO

NÃO TE TRAIR

E QUISER ACREDITAR,

ENTENDEREMOS, POR CERTO,

A LINGUAGEM DE DOIS SERES,

QUANDO SE VÊEM ENVOLTOS

NESSA COISA DE AMAR.







POUCOS HOMENS FORAM TÃO FELIZES,

E MUITO MENOS FORAM AQUELES,

QUE ENTENDERAM TANTAS VERDADES

NUM SÓ MOMENTO.



QUANDO A HORA

SE TORNOU OPORTUNA

PARA AFLORAR AS VERDADES

E O TEU CHORO E PRAZER,

NUM MESMO GEMIDO E CONTORCER,

AO SE MISTURAREM,

FIZERAM-ME ENTENDER:

O AMOR

É A PARTE DE VERDADE

QUE BROTA

E QUE VOCÊ FAZ REALIDADE.











A ÚNICA MOEDA QUE USAMOS,

É A TROCA,

DO QUE TANTO SE DESEJOU,

DO QUE MAIS SE QUIS PARA SI

VINDO DO OUTRO,

E POR ISSO, É UMA TROCA.

POIS TEU OLHAR

VAI CRUZAR COM O MEU,

NOSSO SUOR VAI SE FUNDIR,

NOSSA TROCA VAI GEMER

NA MESMA E ÚNICA MOEDA.



E COMO SINAL DE BOM NEGÓCIO,

BRINDAREMOS COM UM PERFUME INESQUECÍVEL,

NESSA QUÍMICA PERFEITA,

NOSSO CHEIRO DE AMOR.



HAVERÁ TROCA MAIS JUSTA,

MOEDA TÃO IGUAL,

VALORES TÃO COMPARÁVEIS,

COMO ESTE PERFUME?



HOJE, PROCURAS UM PAR PARA TROCAR...











NÃO CONSIGO TIRAR

DE DENTRO DE MIM

A LEMBRANÇA DE QUANDO TE CONHECI

PASSEANDO NO MEU PENSAMENTO,

USANDO TODO O ESPAÇO

QUE TE PERMITIA INVADIR,

FAZENDO REVIVER TODO O SORRISO,

TODA A GRAÇA,

TODA MANSIDÃO,

DEIXANDO EM CADA IMAGEM,

UM REGISTRO EM MEU CORAÇÃO.



VOU TER QUE DEIXAR

CORAÇÃO INTEIRO VAZAR,

EM PRANTO SECAR.



É A ÚNICA MANEIRA

DE CONSEGUIR DERRUBAR

ESSA CONSTRUÇÃO DE VOCÊ

DENTRO DE MIM.











VAI,

SEGUE TEU CAMINHO.

APANHE OS FRUTOS

DE TANTO ORGULHO.

VEJA POR TI MESMA

QUE DE NADA VALE TUDO ISSO,

SE PERDEMOS A DIREÇÃO,

DONDE NOSSOS PASSOS

JAMAIS DEVERIAM TER SE DESVIADO.



LEVA CONTIGO TUDO

O QUE SEMPRE EXISTIU

DENTRO DE NOSSOS CORAÇÕES.

E DURANTE A CAMINHADA,

TENTE NEGAR O ENGANO COMETIDO,

O ANDAR AGORA SOFRIDO

DE TANTA SOLIDÃO.



VAI,

TENTE AINDA, MAIS UMA VEZ,

ENGANAR TEU CORAÇÃO.











SÊ COMO O SONHO,

DAS RAÍZES DESGARRADA,

DESPRENDIDA DE UM CHÃO QUALQUER,

DE ALGUÉM.

VÊ APENAS O VÔO

NAS ASAS PRÓPRIAS QUE TENS DESPERCEBIDAS,

QUE TE CONDUZEM SOLTA,

LIBERTA DAS LUTAS TRAVADAS,

DO PRECONCEITO,

PARA NÃO ACREDITAR

QUE A VIDA É PURA ILUSÃO.



NÃO DEIXE QUE A DESVENTURA

TE FAÇA PERDER FRAGMENTOS,

OU DIMINUAM A GRANDEZA

DE TUA INDEPENDÊNCIA.

E VOE, SEM RISCO DE CAIR,

SEM TER QUE, NO MEIO DO CAMINHO,

ACORDAR.



SÊ, ENTÃO, COMO UM SONHO.

NÃO ESCONDA O TEU SEMBLANTE,

A BELEZA DE TEU SORRISO,

O MOVIMENTO DE TEUS TRAÇOS,

A DESENHAR, COM TANTA GRAÇA,

A DOCE FIGURAS QUE TENS.













EU TE PEDI LUZ.

ANTES, ME VI NA MAIS PROFUNDA TREVA.

PEDI PAZ,

E ESTAVA ENREDADO

COM MEU TORMENTO INTERIOR.

PEDI AMOR,

E ANTES, PERMITISTES

A DOR DA DÚVIDA,

DO DESCASO,

DO DESAMOR.



SENHOR,

TE PEDI TANTAS COISAS...

E DESTE-ME, ANTES

DE CADA PEDIDO MEU,

O SENTIDO EXATO

DE CADA UMA DELAS.

POR ISSO AS RECEBI EM DOBRO.













LUZ,

TE QUERO AGORA.

UM RAIO TEU SOMENTE

PARA ME ILUMINAR,

TIRAR

DESTA SUFOCANTE ESCURIDÃO.



JÁ NÃO ENXERGO NADA,

NEM AS PEDRAS EM QUE TROPEÇO,

NEM O SANGUE QUE ESCORRE,

DAS FERIDAS,

DAS BATIDAS NAS RAMAGENS

QUE ME AÇOITAM,

TALVEZ PORQUE QUISESSE,

A NOITE, TER SAÍDO À PROCURA

DE ALGO QUE, SOMENTE

COM O CLAREAR DO DIA,

PUDESSE ENCONTRAR.













TEM UMA HORA

EM QUE A VIDA PERDE A GRAÇA,

QUE O SENTIDO

PRA TUDO INEXISTE,

QUE, POR MAIS QUE INJETAMOS

ÂNIMO NAS VEIAS,

TUDO SE PERDE

NUM ESPAÇO QUE NÃO SE TEM,

NÃO SE EXPLICA,

QUE TENTAMOS CRIAR,

MAS QUE SEMPRE NOS FOGE.

TEM UMA HORA

QUE A TUA FALTA

SE TORNA MAIS FORTE,

A MADRUGADA NÃO PASSA,

O DIA NÃO AMANHECE,

O FRIO ME ENCONTRA

MESMO NAS COBERTAS

E EU TE PROCURO,

MAS NÃO TE SINTO,

TE QUERO,

MAS NÃO TE TENHO.

ROÇO A CAMA COM AS MÃOS

E NÃO TE ACHO,

E TEM ESSA HORA,

EM QUE A VIDA

E TUDO O QUE FAZEMOS DELA,

PERDE A GRAÇA.











SOLIDÃO,

A QUANTAS PENAS TE VIVO

E TENHO-TE NUM REVOLVER

FERINDO-ME A PROFUNDEZA DA ALMA,

DIZENDO-ME NÃO

A TANTOS SONHOS MATUTINOS.



AH! SOLIDÃO,

É DOLOROSO ESSE DESPERTAR CONTIGO,

NO BRANCO DAS PAREDES DO QUARTO,

E, A CADA MOVIMENTO DO DESPERTAR,

TENTO A VIDA AGARRAR.



VEM A DOR

QUE CORRÓI OS ARTELHOS

APAGANDO DE MINHA ALMA

AS CORES DA EXISTÊNCIA.











E A FLOR DESABROCHA,

QUANDO INICIA O BAILADO

NAS GOTAS ORVALHADAS,

BANHADAS

DE BRILHO,

INICIANDO A INUNDAÇÃO

DE LUZ,

CORES,

DOS RAIOS DO SOL.

BRILHO QUE BANHA DE ALEGRIA

O MAIS ÍNFIMO SER,

ESCONDIDO NAS ENTRANHAS,

ENCOBERTO DE PROPÓSITO

PELA MÃE NATUREZA,

INSTIGANDO COM TEU BRILHO,

E CALOR

A GERMINAÇÃO DA VIDA,

O CRESCIMENTO DOS SERES

E O ENDEUSAMENTO DA BELEZA,

QUE SEU CLARÃO NOS FAZ VER

COM TODOS OS TONS,

COMO SE DEUS CRIASSE

NOVA COR,

NOVA VIDA.









QUE LONGA ESPERA!

E NÃO CLAREIA

A JANELA

QUE ABRE AS PORTAS

PRO DIA,

A CLARIDADE

PRO QUARTO,

ONDE ESPERO

O DIA AMANHECER.











UM DIA,

OS FATOS SE REVERTERÃO,

E O HOMEM NÃO MAIS TERÁ QUE TER,

E SIM,

SER.









A VIDA SORRIU,

ABRINDO AS PORTAS,

FAZENDO PROMESSAS,

LEVANDO-ME A ACREDITAR

QUE O SOL ERA DOURADO

E ME AQUECIA,

QUE O CARINHO ERA DA BRISA,

O FRESCOR DO ORVALHO,

E A CLARIDADE DA LUZ,

UM SINAL DE FESTEJO.

ATÉ SENTIR

O FORTE CLARÃO

DO RELÂMPAGO

FERINDO A RETINA.









QUE PREÇO SE TEM QUE PAGAR

POR ESSES PADRÕES QUE CRIARAM,

ENSINARAM E FIZERAM CUMPRIR...

QUE PREÇO SE TEM QUE PAGAR

QUANDO SE ACREDITOU

EM TANTAS FALSAS VERDADES

E COMODIDADES DE QUEM

ACHOU POR BEM, ASSIM ENSINAR...

E O GRANDE CULPADO

A PAGAR TAL PREÇO

É AQUELE QUE ACREDITOU, QUE VIVEU,

ACHOU CORRETO E PRATICOU.

E NESSA LONGA ESTRADA, SE ESTREPOU.

QUE PENA NÃO TEREM ENSINADO

COMO ESTAR SORRIDENTE E CUSPIR,

PRA NÃO ENGOLIR AS MENTIRAS

QUE CRIARAM PRA TI.







QUEM ME DERA

ESTE ABRAÇO FORTE,

ESTE SORRISO

A ROMPER DOS LÁBIOS.

ESTA EXPRESSÃO BONITA

DE QUEM HÁ MUITO

QUER TE ENCONTRAR.

AH! QUEM ME DERA

ALGUÉM QUE ME SORRISSE,

ME ESPERASSE

E EXPRIMISSE ESSE AMOR

NA CHEGADA...









OS CANARINHOS EM ALGAZARRA,

ESTRIDENTES ASSOVIOS,

FAZEM OS ACORDES INICIAIS

DA MATINAL SINFONIA...



A CIGARRA, AO LONGE,

DÁ O TOM GRAVE E RESPEITOSO,

IMPONDO-SE COM SEU ROUCO

E ARRASTADO CANTAR,

MARCANDO AINDA SEU LUGAR.



LÁ NO MORRO,

NO MATO,

OUTRO ENSAIO AOS POUCOS SE INICIA;

A PRINCÍPIO LENTO E FRACO,

COMO DOCE AFINAÇÃO...



SE FAZENDO PRESENTE,

NA MESMA SINFONIA INICIAL,

REVELANDO-SE LENTAMENTE MAIS FORTE,

CHOROSO

ESTRIDENTE,

A TECER ONDAS NO AR,

O CANTO DO SABIÁ...



POUSA A GARÇA NO RIACHO,

SINHAÇÚS SE ALVOROÇAM,

NUVENS PASSAM SE ESPALHANDO

APRESSADAS E EM DESALINHO,

COMO SE O CÉU FOSSE O CHÃO

E O VENTO VASSOURA,

ESTENDENDO OS LENÇÓIS PRÁ AURORA.

O CÉU TODO DOURA.

TODOS CANTAM.



O ENSAIO ACABOU.

TUCANOS VÃO CHEGANDO,

QUASE ATRASADOS,

MAS DE LONGE SE ANUNCIANDO

E AS ARACUÃNS GRITANDO EM TOM GRAVE,

JUNTANDO-SE AOS TENORES TUCANOS.



NOS POSTES, OS AMARELOS BEM-TE-VIS FESTEIROS

E COLEIRINHAS ALEGRES, AFINADAS,

VÃO TOMANDO SEU LUGAR...

ATÉ OS PREGUIÇOSOS PARDAIS,

VIERAM GORGEAR.



QUANDO SE FEZ AURORA,

A SINFONIA ERA PURA ALEGRIA.

AS CORES SE VESTIRAM DE BELEZA TAL

QUE SÓ SE VÊ AO ACORDAR,

AO NASCER,

AO SE VER, COMO SE O MUNDO,

A RECRIAR...











NÃO SEI QUAL DAS ROSAS

FOI MAIS FELIZ;

SE A QUE A ARRANCADA FOI,

OU A QUE PLANTADA FICOU.

AMBAS TINHAM O MESMO PERFUME,

A MESMA COR,

E A DUAS, AO SEU TEMPO

DESABROCHARAM.

NÃO SEI QUAL DELAS

TEVE MAIOR PRAZER, EM PERDER-SE,

PÉTALA A PÉTALA.

UMA, DEIXOU-SE CAIR POR TERRA

E O CHÃO MANCHOU

COM SEU PRAZER,

COBRINDO DE ROSA, ELA E A COR,

TODO O SEU REDOR.

OUTRA, PODADA FOI,

FURTIVAMENTE,

POR SER BELA E PERFUMADA,

SÍMBOLO MAIS PRÓXIMO,

DA BELEZA QUE TENS,

E, DA MESMA FORMA SE PERDEU,

PÉTALA A PÉTALA,

DEPOSITADA A SEU TEMPO

SOBRE O VIDRO DA ESTANTE,

UMA A UMA CAINDO

ATÉ TORNAR-SE NUA

DEIXANDO TINGIDO O VIDRO,

DE PERFUME E ROSA COR.



E QUAL DAS DUAS

MAIS LEMBRADA SERÁ?

QUAL PERPETUARÁ?

UMA POR CERTO,

FARÁ DE SI OUTRAS ROSAS.

OUTRA,

SENTIDO MENOR NÃO TERÁ

REVIVENDO PARA SEMPRE,

A IMAGEM,

INSTANTE A PERPETUAR, EM TI,

UMA ROSA PERFUMADA.













QUE AS MINHAS PEGADAS

POSSAM TE FAZER CHEGAR

CHEGAR A ALGUM LUGAR.



QUE OS MEUS ERROS,

SEJAM TEUS ACERTOS.



QUE OS MEUS ACERTOS

SEJA PARTE DE TUA GLÓRIA.



QUE TUA GLÓRIA

TE FAÇA CONHECEDOR

DE TUA PRÓPRIA GRANDIOSIDADE.











QUE O MEU ACORDAR

SEJA SERENO,

TÃO SERENO E IMPONENTE

QUANTO O NASCER DO SOL.



QUE PERSEVERE EM MIM

TEU AMOR,

E QUE EU POSSA ENTENDER

TUAS VONTADES

COM A MESMA CLAREZA,

COM ENTENDIMENTO,

DE UM LINDO ALVORECER.











QUANDO OS RAIOS

AVERMELHADOS

DO POR DO SOL

BANHAM OS RAMOS MAIS ALTOS

DAS FIGUEIRAS

E, ABAIXO, INUNDAM TODA A BAÍA,

COM A MESMA COR,

JÁ É HORA DE SE RECOLHER,

REACENDER,

COM NOVOS TRONCOS, A FOGUEIRA,

ESPERANDO O ESCURECER.



AÍ, ENTÃO,

É A VEZ DAS CHAMAS AMARELADAS,

VIOLETAS,

ILUMINAREM A ESCURIDÃO

EMBAIXO DAS ÁRVORES,

ONDE, RARAMENTE, OS RAIOS DA LUA

CONSEGUEM PENETRAR,

FAZER CLARÃO.









NO HORIZONTE,

NO NEGRO MANTO MONTANHOSO

DESPONTA A LUMINOSIDADE ALARANJADA

DOS RAIOS DO SOL.

SÃO AS BATIDAS DO SINO

DA MATRIZ, ANUNCIANDO

QUE O DIA JÁ AMANHECE.

POUCO ANTES,

OS GALOS,

ESPALHADOS ESTRATEGICAMENTE

PELA PEQUENA CIDADE,

CANTAVAM ALEGREMENTE AO RAIAR

NUM CORO POR MIM

NUNCA VISTO.

E O SINO BATE...

SEIS BATIDAS

QUE INUNDAM A CIDADE

COM SEU SOM ESTRIDENTE.

ACORDEI CEDO.

VI O DISSIPAR DE TODA A NÉVOA

QUE COBRIA A PARTE BAIXA

DO LUGAREJO,

VI O NASCER DO SOL,

O CLAREAR DO DIA,

PORQUE SENTI

QUE JÁ ERA FELIZ.





COM QUE FACILIDADE

TE REVIRAS NA CAMA

E DORMES,

SEM QUERER PERCEBER

QUE ALGUÉM AO TEU LADO,

ANGUSTIADO E INTRANQÜILO,

ESPERA POR ALGO QUE NÃO FOI DITO,

FICOU ENGASGADO,

E ENQUANTO NÃO FOR ENTENDIDO

VAI CONTINUAR PERTURBANDO,

INTERFERINDO,

DESFAZENDO TANTOS BONS MOMENTOS.



ESPERA APENAS UM INSTANTE,

UM MINUTO DA TUA PRECIOSA ATENÇÃO,

PARA QUE TE DIGNES OUVIR

SUAS ANGÚSTIAS,

UMA DÚVIDA QUALQUER

QUE POSSAS COM CARINHO CONSERTAR.









TOCO VOCÊ

COMO A SUTIL DELICADEZA

DE UM SOM ANGUSTIADO

QUE SAI DOS LÁBIOS,

SEM MEDO DO EMBATE

INSISTENTE E PROFANANTE,

DO NÃO, QUE CANSA

MAS NÃO DETÉM,

A ENXURRADA DE TOQUES

CONTRA O PAREDÃO EGOÍSTA,

QUE O ERRO CONSTRUIU.



DEIXA SOMENTE A ESPERANÇA,

DE QUE ESTE MESMO TOQUE,

QUE REPETE SEMPRE - TE AMO,

UM DIA JÁ NÃO NEGUE

O DIREITO QUE TEMOS DE AMAR.









TRESLOUCADAS PALAVRAS VARAM

ZOMBETEIRAMENTE OS OUVIDOS,

E OS ATOS CESSAM.



MUDA-SE TODO O TRAJETO,

ANTES RICAMENTE CRIADO

POR AQUELE QUE, AOS POUCOS,

VÊ SE DESFAZER TODO O ENVOLVENTE SONHO

COMO ONDA QUE, NUM SÚBITO SOLAVANCO,

DESFAZ TODO O SENTIDO DA PROCURA,

TORNANDO-A AMARGA,

INIBINDO O ÍMPETO CRIADOR

DE TANTOS MOMENTOS.



E PASSA INERTE O TEMPO

PERDENDO INSTANTES DE SE TEREM.











VEREDA INCANSÁVEL

DOS AMORES NA VIDA...

DELA, TEMPO ESCORRIDO,

DOS AMORES, QUASE DORES

DE VER QUE PASSADO ESSE TEMPO,

ESQUECEU-SE DAS FEIÇÕES.



FICOU ASSIM LAPIDANDO

O SÓ E PRÓPRIO SENTIMENTO,

NAS LEMBRANÇAS

DAS TANTAS QUE AMOU...



O AMOR INCANSÁVEL VIU,

A SEU TEMPO PASSAR

TANTAS CARAS,

CORPOS

E CONTORNOS...

E DE TUDO,

SÓ UM PERMANECEU:

O AMOR INCANSÁVEL,

SEM ROSTO,

SEM CORPO,

SÓ BAGAGEM.









SE HOUVESSE MANEIRA

DE GRAVAR ESTE SORRISO,

TORNÁ-LO ETERNO...

POIS CARREGA CONSIGO

TAMANHA SATISFAÇÃO,

QUE MAIS PARECE

O GOZO DE QUEM,

PLENAMENTE SATISFEITO,

DEIXA VAZAR SUA ALMA.

SE PUDESSE RETRATAR

ESSA FACE SE CONTRAINDO,

CRIANDO VIDA,

ENTRE TANTAS RUGAS,

BROTANDO EM CADA PREGA,

UM SINAL DE SUA MELHOR ENTREGA.







E TU VAIS,

NESSA IDA PREMATURA,

POR ESTRADAS ESTRANHAS,

DE TREVAS OU DE LUZ,

NA LIBERDADE, OU NO TER QUE IR,

DEIXANDO EM NÓS A SAUDADE.

E QUEM SABERÁ

QUÃO FELIZ ÉS TU,

ESTE SER,

QUE OUTRA VIDA VIVERÁ.



E NOS CHORAMOS,

PORQUE NÃO ENTENDEMOS,

O QUE TU, POR CERTO,

INDO PRÁ LÁ,

ENTENDERÁS.







(AO MARCELO, IN MEMORIAM)









HOJE SÃO BRANCOS

OS CABELOS,

OUTRORA TÃO NEGROS.

OLHOS SEM COR,

SEM BRILHO,

QUE ANTES, TANTO VIRAM.

BRAÇOS CANSADOS,

QUE TANTAS LUTAS VENCERAM

E ABRAÇOS TANTOS DERAM.

LÁGRIMAS DE AGORA,

ONTEM,

EM SORRISOS SE ABRIA.

ÉS ASSIM HOJE,

UM ABANDONO

DA SOCIEDADE PROGRESSISTA,

QUE COLHE OS FRUTOS,

POR TI PLANTADOS.









ESCUTO TUA VOZ,

ENTRECORTADA DE PAUSAS,

DE RODEIOS,

DE GESTOS LENTOS,

DE UM TOSCO PIGARRO...

MAS MESMO ASSIM,

FIRME E CONFIANTE,

TÍPICA DE QUEM

ENVEREDOU MUITOS CAMINHOS,

PERCORRENDO E TRAZENDO-OS TODOS

MUITO VIVOS, BEM GUARDADOS,

NA MENTE ACUSADA PELA VELHICE,

DE ESTAR ESCLEROSADA.

MAS, TU SABES,

OS CAMINHOS QUE TRILHASTES

E SÓ TU PODES

REVIVÊ-LOS A TAL PONTO,

DE ME CONTAR, ASSIM,

TÃO NITIDAMENTE

E DE FORMA TÃO TRANQÜILA,

A TUA CAMINHADA.











DEIXAR O PUDOR SE ESVAIR

E TRANSPARECER A ENTREGA,

DESPIDA DOS EGOS,

SABEDORA DA CUMPLICIDADE

DESSA DOAÇÃO,

SEM PREMEDITADA INTENÇÃO,

ABRAÇAR EMOÇÕES TODAS,

CORPO, SENTIDO E PAIXÃO,

COMO NUM CAMINHO

INTEIRAMENTE NOVO,

O DESENFREAR DA CONTIDA EMOÇÃO,

DESCOBRIR AS INERTES SENSAÇÕES

ADORMECIDAS,

E COMO ATO LIBERTINO,

VIVÊ-LAS,

PERMITINDO TRANSPOR EXPECTATIVAS,

CONHECER UM NOVO CAMINHO.









VERSO



TE VEJO A CAMINHAR

ENTRE TROPEÇOS E SUSTOS,

SEM NEM MESMO SABER

O QUE PROCURAS,

OU, SE DEVERIAS ALI ESTAR,

SE TEUS PASSOS, MAIS SEGUROS,

SE TEU OBJETIVO, MAIS CLARO,

TANTOS PASSOS DADOS

NÃO SERIAM EM VÃO,

VAGANDO NA SAUDADE,

ESQUECIDA DE QUE,

OU DE QUEM...

CONTINUAS, SEM FIRMEZA A MOVER-TE,

SEM A CERTEZA DE PRA ONDE IR.

TEIMAS COM O DESTINO

EM VIVA CONTINUAR...

E COM AS FORÇAS SE INDO,

APENAS, VIVA ESTAR...

E, DE LONGE,

OBSERVO TUA QUASE AGONIA,

DE IR E VIR,

DAQUI NÃO PARTIR!







REVERSO



SE NÃO VÊ ALTERNATIVA,

SE VOLTA PRA SI

E GRITA,

QUE JÁ É CHEGADA A HORA,

DE SE RECOLHER,

DE NÃO SER,

DE SE IR.











ESCORRE O FILETE VERMELHO,

VIVO LÍQUIDO,

DEIXANDO A PALIDEZ

AO, COMO FUGITIVO SE AUSENTAR,

QUANDO ENCURRALADO SE VÊ

E DESCOBRE A ABERTURA

QUE LIBERDADE LHE DARÁ,

DESLIZANDO NOS TÚNEIS,

TUBOS,

INDO DE ENCONTRO AS PAREDES,

QUE TANTO O PRENDERAM.



FOGE DE TÃO NOBRE MISSÃO,

DESCONHECE SUA REALEZA,

SUA PRECIOSIDADE,

POR CERTO NADA SABE DO FATO,

DE QUE SÓ ELE, O SANGUE,

TORNA VIVO O CORPO,

QUE INERTE REPOUSA...











ANSIOSA E SORRIDENTE TU ESPERAS,

NUM ABRAÇO DE LIVROS E CADERNOS,

NA ESCOLA, NO PORTÃO,

OBSERVAS O INDÓCIL REBANHO

COM CUIDADOSO OLHAR, DE PÉ,

PRA TUDO VER,

ESSE REBELDE CRESCER,

SEM NUNCA PODER SE ENGANAR

TEU ATENTO OLHAR, DE PROTEGER...

É QUASE COM DEUS ESTAR.

NÃO TENS HORA,

TEU LUGAR É A ESCOLA,

LÁ, VAIS SEMPRE ESTAR,

SEM NUNCA FALTAR,

NESSE ABRAÇO QUE ESPERA

E ACOMPANHA ESSE CRESCER.

FINDA-SE O ANO

E A ALEGRIA DAS FÉRIAS

QUE LOGO VEM,

VEM COM ELA A TRISTEZA,

DA PROFESSORA DEIXAR DE VER,

ACORDAR, O UNIFORME VESTIR

E COM PESAR PERCEBER,

QUE É PURA SAUDADE

QUE ESTÁ A SENTIR,

DA ESCOLA, DA PROFESSORA,

ESSE TÃO COMPLETO SER!











JÁ NÃO TENHO O DIREITO

DE TE PEDIR PRA VOLTAR,

DEITAR EM NOSSO LEITO

E, COMO ANTES, AMAR...



O ELO FOI PARTIDO,

NÃO SE SOUBE CONSERVAR.

O TEMPO HOJE É PERDIDO,

SABE LÁ SE VAI VOLTAR.



ENTRE TANTAS IDAS,

SEMPRE HOUVERAM AS VOLTAS.

ASSIM COMO EM CADA PARTIDA,

GUARDADA FICOU A REVOLTA.



TE ENCONTREI MUITAS VEZES,

NEGANDO EM SI PRÓPRIA, O AMOR;

NÃO TIVE MEDO DOS REVESES,

NEM, NUNCA ESCONDI MINHA DOR.



QUEM AMA TUDO PERDOA

E UMA ETERNIDADE ESPERA.

EM MIM TUA VOZ ECOA,

BRADA FORTE, FEITO FERA.



TENTEI EM MIM TE CALAR,

VIVENDO UM NOVO AMOR;

DO MEU PEITO QUIS APAGAR

TUAS LEMBRANÇAS, TEU CALOR.



NADA MAIS POSSO FAZER,

A NÃO SER CONFIAR

QUE AS LEMBRANÇAS, UM DIA

QUEIRAM REVIVER, VOLTAR,

TODO TEMPO PERDIDO,

O ELO, QUE FOI PARTIDO,

QUERER CONSERTAR!











ESPALHADA EM COR DE MEL,

EM MEIO A DOBRAS MIL

DO AMARROTADO LENÇOL,

SEM VESTÍGIO ALGUM

DE POSSÍVEL PUDOR,

INERTE, TRANQÜILA ADORMECEU.



BRAÇOS ESTENDIDOS

PARECENDO TOCAR O CÉU;

UMA PERNA ALÇANDO VÔO,

OUTRA, A TERRA QUERENDO ALCANÇAR.



O COLO QUENTE E ACONCHEGANTE

DEIXA-SE ESPREITAR,

LANGUIDAMENTE ACOMODADO

ENTRE AS DOBRAS DO LENÇOL.



ESSE PRETO ESPARRAMADO

DE TEUS CACHEADOS CABELOS,

A COBRIR SEIOS E SONHOS

DE UMA COR SÓ.



LOMBO DESNUDADO,

COBERTO APENAS

DE COR DE MEL;

TUA COR, TUA PELE,

EM CIMA DO LENÇOL.



E QUANDO AMANHECE,

O SOL VEM TE BEIJAR,

AVELUDANDO TODA A PELE,

TE COBRINDO DE GRAÇA,

ENCANTANDO MEU OLHAR.









HÁ MUITO SE VAI

A MENINA SONHADORA,

QUE DIZIA ENCANTADA SEUS SONHOS...

O QUE PRA SI TECIA,

E, JÁ NEM ERA FANTASIA,

POIS, EM TUDO ACREDITAVA.

GESTOS PENSADOS,

DO QUERER SER ADULTA...

MOVIMENTOS SEDUTORES,

MAS, DE PURA INOCÊNCIA.

OLHAR QUASE LÂNGUIDO,

DE UMA SONHADA NINFETA...

PENSAMENTOS DISPERSOS,

ENTRE A FANTASIA E A REALIDADE.



SURPRESA FOI, TE VER CRESCIDA

E SEM OS SONHOS DE OUTRORA

E QUE EM TANTOS DESENCONTROS,

TIVESSE MORRIDO AOS POUCOS,

DESACREDITADA DE SI, NOS OUTROS,

EM TUDO QUE PARA SI CRIARA...



NÃO PENSES TU,

QUE A VIDA PASSA SIMPLESMENTE,

COMO SE PURA FANTASIA O FOSSE.

MESMO SENDO APENAS UM SONHO,

É PRECISO QUE SE SONHE

COM ALGUÉM, ALGUMA COISA,

PARA QUE NÃO SE PASSE DESPERCEBIDO,

APENAS COMO MAIS UM DIA VIVIDO,

TODO TEMPO QUE SE TEM!











SEREI SEMPRE TEU AMIGO,

POSSO TE OUVIR E CONSOLAR.

MAS, NÃO PODEREI CONTIGO,

NA MESMA CAMA DEITAR.



TERÁS SEMPRE O PRAZER

DE PODER COMIGO CONTAR.

MAS NEM PENSE EM DIZER,

QUE QUER, COMIGO FICAR.



NÃO ME PROVOQUES MAIS,

DO MODO COMO FAZIAS.

POSSO OUVIR TEUS AIS,

MAS, NÃO VIVER TUAS FANTASIAS...



SENTIR AMOR POR ALGUÉM

É MAIS QUE SAUDÁVEL, É GOSTOSO...

MAS, VAI MUITO MAIS ALÉM

QUE UM MOMENTO APETITOSO.



DO FUTURO NADA ESPERE,

POIS, NO PASSADO, NADA ACONTECEU.

SE O PRESENTE TE FERE,

FOI VOCÊ QUEM TECEU.



NÃO ESPERE QUE NADA

POSSA MINHA ATITUDE MUDAR;

ISSO É COISA RESOLVIDA,

PRA NÃO MAIS TER QUE VOLTAR.









DO PEITO VAZA

TU’ALMA EM DESCOMPASSO,

APRESSADA E EM DESALINHO,

QUERENDO NÃO PERDER

MINUTO, HORA OU DIA,

DO TEU PRECIOSO VIVER.



CORREM ASSIM TEUS PASSOS

SEM O MEDO DE ERRAR,

PERCORREM CAMINHOS

QUE OS PÉS DE TU’ALMA

PERMITEM EXPLORAR.



DIVAGUE...

FLUTUE...

DEIXE-SE LEVAR.

EM ALGUM LUGAR,

TU’ALMA VAI POUSAR.











COM HUMILDADE CONFESSO,

QUIS TE AMAR, ME ENGANEI.

DE TODAS AS FORMAS TENTEI

TEU CORAÇÃO PENETRAR,

MAS, NÃO SE PODE ASSIM,

QUERER TUDO MUDAR,

É DE VOCÊ, É DE MIM,

É NOSSA FORMA DE AMAR.



SEI, FICARÁ A LEMBRANÇA,

DE TANTOS MOMENTOS VIVIDOS;

SERÁ ETERNA A HERANÇA,

MESMO COM OS DIAS IDOS.



NÃO SE PODE AMAR OUTRO ALGUÉM

SEM ROMPER O PASSADO DISTANTE;

O AMOR NUNCA IRÁ ALÉM,

SERÁ APENAS UM INSTANTE.



NUNCA É TARDE, IMPOSSÍVEL,

DE A VIDA RECOMEÇAR;

NINGUÉM É TÃO PASSÍVEL

QUE NÃO POSSA,UM POUCO SE DAR.



DEIXE A PORTA SEMPRE ABERTA,

POIS ALGUÉM PODE QUERER ENTRAR.

MAS ESTEJA SEMPRE ALERTA

PRA NÃO SE DEIXAR ENGANAR.



ASSIM, NÃO TENHAS MEDO,

QUANDO ALGUÉM SE APROXIMAR,

NÃO FAÇA DE TI, TAL SEGREDO,

QUE NÃO SE POSSA DECIFRAR.



O EGOÍSMO NÃO TEM MAGIA,

NELE, SÓ VOCÊ TUDO SENTE;

O OUTRO, EM PURA AGONIA,

NUNCA VAI ESTAR PRESENTE.



COM TANTA FORMOSURA,

FÁCIL É SE APAIXONAR.

NÃO DEIXE QUE ESSA USURA,

O ENCANTO POSSA QUEBRAR.



ESPERO PODER TE FAZER,

A VIDA DIFERENTE OLHAR...

AMAR É TER PRAZER...

COMO É BOM SE DAR!











ACOMPANHA, O FURTIVO OLHAR,

OS LIVRES MOVIMENTOS,

A EXPOSIÇÃO PERFEITA...

PERCORRE INTEIRA,

INDISCRETO E ATREVIDO

E NAS DUAS PUPILAS

OS INSTINTOS SE VÊEM LIVRES,

DIANTE DA FÊMEA,

MULHER, SEXO EXPOSTO

NO CONTORNO DOS SEIOS,

LÁBIOS, COXAS E CABELO,

NO JEITO DE OLHAR,

NO MANSO FALAR...

E ME TENS PRESO

AOS MOVIMENTOS TEUS,

EM FRAÇÕES DE TEMPO

DE CURIOSA ESPERA,

EM CADA NOVO GESTO, INTENÇÃO.

PALAVRAS, NENHUMA.

OLHARES SE CRUZAM...

MAS, NADA SE DIZ.

TUDO SE ESPERA,

DA PIONEIRA PALAVRA,

DO ROMPER DOS SILÊNCIOS,

DE REVELAR INTENÇÕES...











NÃO SEI SE POSSO

CONTIGO, ASSIM FALAR.

NÃO É UM PADRE NOSSO;

É MINHA FORMA DE ORAR!



SÓ TU TIVESTE A OUSADIA,

DE SE DEIXAR CRUCIFICAR;

FAZENDO DE NÓS MORADIA,

DA TUA VIDA UM ALTAR.



NÃO IMPORTA TUA FIGURA,

TEU TEMPO, TEU LUGAR.

IMPORTA TUA LISURA,

NOS ENSINANDO A AMAR.



SOU PEQUENO, PECADOR,

MAS, TU VOLTAS A CONFIAR;

ESQUECES E NA DOR,

NOS PERMITES MUDAR.



NAS TUAS PALAVRAS ME ABRIGO,

NUM MESMO MANTO, MESMO OLHAR;

CAMINHO, APRENDO CONTIGO,

TEU EXEMPLO QUERO COPIAR.



TE LOUVO E AGRADEÇO

MAIS UM DIA, PODER CRESCER;

CONTIGO, NÃO PADEÇO,

EM TI, NÃO HÁ SOFRER.



INCLINA SOBRE MIM

TEU PRECIOSO OLHAR;

EU, AQUI PONHO FIM,

CANTANDO ESSE HUMILDE ORAR...











HAVIA UM NEGRO,

DE ANDAR TRÔPEGO E ARRIADO,

QUE A CAMBALEAR PASSAVA

TODAS AS NOITES,

EM FRENTE A CASA EM QUE MORAVA.

NESSA HORA CALADA,

TODA A RUA, SILENCIOSA,

JÁ DORMIA...

COM GESTOS LENTOS,

MANTADOS DE CAUTELA E PRECISÃO,

E, SEUS PASSOS EU CONHECIA,

SEU JEITO CARINHOSO

QUE RARAS VEZES,

FAZIA BATER O PORTÃO,

ELE OS IA FECHANDO,

UM A UM,

ATÉ A CASA ONDE EU MORAVA.

E, COMO AGRADECER

AQUELE GESTO DO NÊGO,

FIEL A UMA GUARDA,

SEM NUNCA TÊ-LO PEDIDO?



CERTA NOITE, AO SE APROXIMAR,

FUI DE ENCONTRO AO PORTÃO

E DO NEGO,

ARRANCANDO DE SUA CARA MALTRATADA

PELA BEBIDA, TALVEZ UMA DOR,

UM OLHAR ZANGADO

POR TÊ-LO DESCOBERTO.

PASSADO ALGUM TEMPO,

ENCARANDO-ME FIRMEMENTE,

ABRIU-SE A CARA

NUM SORRISO ENCANTADOR

E NUM SUSPIRO ALIVIADO,

DISSE-ME UM “OI” TÃO FORMOSO,

QUE SÓ ELE,

SABERIA REPETIR.











GOZO PROFANO

DE MÚTUO DESCONHECER,

QUASE UM ENGANO FOI TEU NASCER.

QUE HORA INFELIZ, SE VENDO A GERAR,

DE UM ATO APRENDIZ...APENAS GOZAR.

OPORTUNO MOMENTO, CORRERIA A FECUNDAR

E NO PARTO, UMA DOR...

DO FILHO, APENAS VIU A COR.

NÃO O QUIS TER. APENAS, FAZER AMOR...

QUE AMOR O TEU?

FILHO GERADO, IMPENSADO ATO

QUE DO DITO AMOR, ACHOU-SE EM CRIA,

UM MOMENTO... FANTASIA.

VIU-SE FETO NASCIDO, NA VIDA A ESTAMPAR,

CORES E AMORES, O SONHO DE ALGUÉM...

ASSIM, SE FEZ SEU CHEGAR.

DO NEGAR, UMA CRIA.

PRA OUTRA MÃE, UMA FILHA

SEM PARTO NASCEU,

DA ESPERA SEM PESO, SEM MOVIMENTO OU DOR,

SEM CRESCER A BARRIGA...

TEU PARTO É APENAS DE PURO AMOR.

O GOZAR NÃO SOUBE, DE TI, NADA MAIS ESPERAR,

QUE O GERAR E UMA DOR, FEZ, OUTRA MÃE ADOTAR.

OUTRO AMOR, VEM A VIDA LHE DAR.



DO GERAR POUCO SABIAS...VEIO PRA TI,

CRESCIDO E SEM BERÇO,

NÃO O TIVESTE DE TI NASCIDO, APENAS PODER CRIAR...

MESMO ASSIM, DESEJAVAS HÁ TEMPOS, AMAR...

A DOR DAS ENTRANHAS, AS CONTRAÇÕES, NÃO SENTISTE...

MESMO ASSIM ESPERASTE, DIA A DIA O CRESCER,

NÃO O VISTE GERAR...NEM TÃO POUCO O NASCER...

NÃO ESTIVESTE TÃO PERTO, QUE PUDESSES NO VENTRE

SENTIR MOVER, ANUNCIAR...

APENAS PUDESTE, IMAGINAR...

E NUM SOPRO DIVINO, DEIXAR EM TI, O DESEJO PROCRIAR.

VEIO PRA TI, COMO TANTAS VEZES, Á OUTROS TANTOS VIERAM;

EM MOMENTO OPORTUNO, ASSIM, Á TI ENTREGARAM...

EM BERÇO FLORIDO, NA PORTA DEIXADO...

DE FADA...UM CONTO APENAS.

HÁ QUEM ABENÇOADO SE DIZ, PELO DIVINO CRIADOR

DESSE PARTO SEM DOR, SEM PODER SER GERADO,

EM TI ENCONTROU SOFRIMENTO ABREVIADO.



QUEM NÃO QUER, ASSIM NASCIDO,

RECÉM DO VENTRE SAÍDO, PODER SE ENCONTRAR?

FELICITAÇÕES... LENBRANCINHAS...

NO BERÇO ROUPINHAS, PRONTAS A ESPERAR

O NASCIDO QUE VEM A FAMÍLIA COMPLETAR...

ABRINDO-SE A PORTA E ALGUÉM ANUNCIAR O MOMENTO FELIZ...

E VOCÊ, SEM TER COM QUEM TAL DÁDIVA PARTILHAR,

DE ANSEIOS, PERFEITO TER VINDO, ÂNSIA DO ENGRAVIDAR

E SER DO FETO EXPULSO, NUM SUAVE PROJETAR,

A DESCOBRIR-SE, SER NASCIDO

E DE OLHOS AINDA SEM VER, VEM O PRIMEIRO AFAGO RECEBER.

ESSA MÃE, QUE DO FETO TEVE O DESEJO DAS DORES,

POSSA ELE, UMA ETERNIDADE AMAR.

MAS NÃO QUEIRAS, QUE DE TANTO AMAR,

VENHA DE TI ESCONDER, A ESSÊNCIA DO VIVER, DO APRENDER,

DO ERRAR. APENAS FARÁ CRER, QUE QUEM MAIS TE AMA

É AQUELA, QUE MESMO SEM TER COM AMOR TE GERADO,

TEM AMOR TAMANHO PRA TE TER ASSIM, CRIADO...

HISTÓRIAS,

SE CONTAM MIL...

DE FILHOS, DE DOR,

HISTÓRIAS DE AMOR...











ROLA TEU FLUÍDO,

ÁGUA LÍMPIDA,

REVOLVIDA ENTRE PEDRAS

E TROPEÇOS,

VAIS LONGE DESCAMBAR

TUAS CHOROSAS MÁGOAS,

DO TANTO REBATER

ENTRE AS MARGENS,

NESSE MEIO,

O TEU PRECIOSO LÍQUIDO.



PEDRA, PAU E TERRA,

UNS REMOVES, ARRANCANDO,

OUTROS, INSERIDOS FICARÃO,

FINCADOS NESTE CHÃO

DE TERRA BENDITA

E TU AS INSTIGAS

NAS TUAS DESCIDAS,

ÁGUA PURA,

CRISTALINA!













DESBRAVE,

MAS NÃO FERE.

ACHE BELA,

NÃO A LEVE.

VISITA,

MAS NÃO FICA.

PISE O SOLO,

NÃO ESCAVE.

BEBA,

MAS NÃO SEQUE.

OLHE,

SE QUISER, GRAVE,

MAS NÃO ARRANQUE.

DEIXE QUE ASSIM

COMO VOCÊ A VIU,

POSSA SEMPRE EXISTIR,

ALÉM DA PORTEIRA!











DEIXE A LOUÇA

NA PIA,

A CAMA

POR ARRUMAR.

NÃO SABES

SE ESTAS PALAVRAS

VÃO, ASSIM, NOVAMENTE

DE TEU CORAÇÃO

BROTAR...







QUERER

QUE A ALEGRIA POSSA

PRA SEMPRE DURAR

QUE O SONO

NÃO VENHA A ACORDAR

QUE O CHORO TENHA

QUE TODO RISO CALAR

QUE CONTINUANDO INERTE

SE VEJA A CAMINHAR

QUE POSSA ALGO COLHER

SEM NUNCA PLANTAR

QUE SE VEJA CRESCER

SEM NUNCA SE DAR

QUE DO FRESCOR DA CHUVA

SE EMBEBA

SEM SE MOLHAR

QUE SEJA UM SÁBIO

SEM SABER OUVIR

QUE SE DELEITE DO SABOR

SEM A CASCA QUEBRAR

QUE POSSA DENTRO DE VOCÊ MORAR

SEM TER QUE EDIFICAR

QUE UTOPIA!











DESVAIRADA DESCULPA

VARA ALMAS,

VAZA SANGUE...

DIZ DEFENDER UMA TERRA

E TODA ESFERA

FAZ TREMER...

COM MASCARADA MENTIRA,

SARCÁSTICO PRAZER,

DESTRÓI IDÉIAS,

FAZ RAÍZES DISSOLVER

PRA COM SUA LOUCURA

MOSTRAR PODER,

SABER AMEDRONTAR,

QUERER COM ISSO

SE APODERAR,

DESTRUÍNDO, INTIMIDAR,

DOMINAR...

DEUS É QUE SABE

SE TUDO ISSO

VAI ACABAR...









SOU

CATADOR DE LIXO,

RECICLO,

( DEVOLVO)

PRA TI REUSAR

E OUTRA VEZ

JOGAR NO LIXO

E EU RECOLHER

PRA PODER

CONTIGO CONVIVER

SEM TER QUE ESMOLAR,

TE IMPLORAR...



QUE TEU LIXO PERMITA

MEU SOBREVIVER,

CONTIGO PARTILHAR

E COM TEU LIXO

O MESMO MUNDO RECRIAR...

RECICLE!











NÃO TIVE TANTA CALMA,

NEM TAL BONDADE.

NÃO FUI TÃO PERSEVERANTE

QUANTO FOSTE.

NÃO TIVE A HUMILDADE

QUE TE FEZ CHORAR NUM CANTO

ESCONDIDO,

PRA CONTINUAR A SER FORTE E RETO.

NÃO FUI TÃO GRANDIOSO,

COM TAL SIMPLICIDADE,

PRA SER COMO TU,

COM TANTO CARINHO LEMBRADO.

NÃO DEI TANTAS VEZES AS MÃOS,

NEM VI TANTOS SE LEVANTAREM

ATRAVÉS DE MIM.

NÃO USEI MEU TEMPO PREVISTO,

PRA QUANTO TE DOASTE,

EXEMPLIFICASTE.

NUNCA O EXEMPLO DE UM HOMEM,

ALÉM DAQUELE,

FOI TÃO MARCANTE QUANTO O TEU,

QUE FOSTE COM TAL TRANSPARÊNCIA

A IMAGEM DELE

E PRA COM ELE, TIVESSES TANTA FIDELIDADE.



AO BOM ARTHUR (IN MEMÓRIAN).









A IDA FOI POMPOSA...

ERAM PROMESSAS,

DE UMA VIDA INTEIRA

DE ENTREGAS...

E TE CHOCASTE COM O PARTO

ABRUPTO,

NEM TIVESTE UM ALENTO

DE UM AMIGO,

DE UM PARENTE...

E SE PUDESSES TE MANIFESTAR,

SERIAS COMO SEMPRE,

HUMILDE,

E PERDOARIAS O PARTEIRO,

QUE TÃO BRUSCAMENTE,

(BRUTALMENTE),

TE FEZ RENASCER...

EU SEI...

E TENHO SAUDADES DE TI!



PARTIU ARTHUR (IN MEMÓRIAN).











E FEZ-SE OUTRAS PALMAS,

PALMEIRAS,

O GRÃO,

SEMENTE LARGADA

NESSE CHÃO...



VIU-SE GERMINADA,

A DESFRALDAR FOLHAS,

PENDENTES

COMO BANDEIRAS

NOS VERDES MATOS,

RECORTADA

EM INFINITOS DESENHOS.









ENGANAÇÃO,

PRA TROUXA PENSAR

QUE É MUITO

O POUCO

QUE SE DESCONTA

DA CONTA

QUE NOS FAZEM PAGAR

PRA POUCOS

USUFRUIR

DO NOSSO SUOR.











BORBA... BORDA BORDADEIRA,

DIZENDO CONTOS...E CANTOS;

COM AS MÃOS DESTRAS, ENLEIA,

REPETINDO REZAS...E SANTOS...



NAS MÃOS TRAZ OS CALOS,

DO TEIMAR A AGULHA E O PANO;

NÃO FAZ SOMA E AO FINDAR,

NÃO SE CONTA UM ENGANO.



CADA PASSADA DA AGULHA, AVE MARIA...

NA VOLTA DO FIO, CHEIA DE GRAÇA...

JÁ VAI INDO AQUELA TIA,

SEU PANO VENDER NA PRAÇA.



AÍ, TEM FARINHA E GORDA LINGÜIÇA;

A GURIZADA, OS OLHOS PREGA,

POIS O CHEIRO A FOME ATIÇA,

MAS NA MESA, ANTES A REZA...



AGRADECE A MESMA REZA,

A ROTINA NÃO FINDAR;

OUTRO PANO, MESMA SINA,

OUTRA MESA PRA ENFEITAR...



A ENCOMENDA JÁ TARDIA,

FAZ TUDO RECOMEÇAR;

DIZER REZAS... CONTAR SANTOS...

PRA COMIDA NÃO FALTAR!













ESSE SABIÁ

INSISTE EM CANTAR

O AMANHECER DO DIA,

QUE EM AURÉOLAS LARANJAS

VEM SE ANUNCIAR.



SÓ VENHO PRA PORTA

PRA VER,

QUANDO CANTAS ASSIM,

TÃO ESTRIDENTE,

LÁ NO MATO

E ECOA TEU CANTO,

NOS CANTOS DOS PRÉDIOS,

REBATENDO,

INSISTINDO

EM VIR, CANTANDO ASSIM,

O DIA ANUNCIAR...









QUE ME IMPORTA ESSA CORRERIA,

ESSES TANTOS IR E VIR.

TANTOS CHEGAM...

TANTOS PARTEM...

ANDAM MUDOS, CABISBAIXOS...

ESBARRAM CALADOS,

SEGUEM ALIENADOS...

NÃO SE OLHAM,

NEM SORRIEM.

APENAS, PASSAM POR ALI...











GIRA RODA DE MADEIRA,

A CINTA DE FERRO

SULCANDO O CHÃO...

E O EIXO DO CARRO

DE BOI QUE CHORA,

CARCANDO NA MATA

AS PATAS DO BOI.



DO TANTO PESO

RANGE O EIXO,

CHORA ESTRIDENTE GEMIDO,

FAZ PROCURAR NO HORIZONTE

VER PASSAR NO MONTE

O TAL CARRO DE BOI.



NAS MATAS ECOA

O SOFRIDO GEMER

DA LIDA DA ROÇA

E A VARA SOVA

NO BOI QUE ARCA

O PESO DO CARRO

DO HOMEM QUE TOCA

A VARA NO BOI,

PUXA...VAI...

LEVAR ESSA CARGA

A ECOAR NESSA MATA

TEU SOFRIDO CANTAR...



QUEM ESCUTA CONHECE,

SE DESCE, OU SE SOBE,

A LIDA DO CARRO,

O PESO QUE VEM

NO LOMBO DO BOI,

QUE TRAZ DOS MONTES

A CARGA DO HOMEM,

QUE METE A VARA

INSTIGANDO A SAUDADE...

O BOI DO TRATO;

O HOMEM... DA CASA QUE TEM.



GIRA RODA DE MADEIRA,

SULCA O CHÃO DESSA PICADA...

FAZ CHORAR O EIXO,

DEIXA OUVIR TEU CANTO

ECOAR NESSA MATA...











VÊ QUE TONS DE AMARELO,

COBREM TEU CORPO

FEITO ARMADURA;

NASCES PARDO,

DESBOTADO,

E TE VÊS EM AMARELO

QUE PERDURA.



ASSOVIAS TÃO ESTRIDENTE

NAS MANHÃS, EM ALGAZARRA,

EM BANDOS, ALEGREMENTE,

COMO SE A VIDA,

DE CANARINHO,

FOSSE FARRA...









PESCAM EM VOOS RAZANTES

ESSES BRANCOS BIGUÁS,

NO HORIZONTAL ESPELHO

ESPERAM ENCONTRAR,

NESSES MERGULHOS

QUALQUER PEIXE,

APENAS SE ALIMENTAR

NESSA HORA TÃO CALADA

DO DIA VER FINDAR,

DESSE BRILHO AMARELO,

ESCURECER,

ESSA HORA DE POUSAR,

FAZER FESTA NO ARVOREDO,

DOS BIGUÁS, DE PÉ,

DEITAR...





SÓ QUEM SABE É A MÃE,

TODA FACEIRA

DE SER A PARIDEIRA

DAS DORES DO PARTO,

DO PRIMEIRO AFAGO

DEPOIS DA CHEGADA...

ATÉ AS DORES

QUE SE SENTE NA PARTIDA.









AS VEZES ENTRISTECIDO

ME VEJO RELEMBRANDO,

DESEJANDO QUE O TEMPO

NÃO TIVESSE PASSADO...

E DEIXADO AQUI PLANTADO,

NUM FUTURO TÃO VAZIO,

NUM PASSADO TÃO DISTANTE,

OS ANSEIOS DO NOSSO AMOR

FURTADO PELO DESTINO,

DESENCONTRADO DE NÓS PRÓPRIOS

NUM REPENTE ODIOSO,

ATÉ SE VER SAUDOSO MOMENTO

A SOLUÇAR A DOR DO PEITO,

A VAZAR O CHORO INSISTENTE

QUE NÃO CONTENTE

INSISTE EM RELEMBRAR

O TOQUE DAS CARÍCIAS,

O TOM CARINHOSO DA VOZ,

OS PEDIDOS INSISTENTES

E OS TANTOS MOMENTOS DE PAZ.



COMO SABER

CALAR ESSA VOZ GRITANTE,

ESSE PEITO ARFANTE A SOLUÇAR

A SAUDADE DE TE TER.









NOTA DO AUTOR



ESTE LIVRO DEVERIA TER SIDO AQUELE QUE REINICIARIA MINHA VIDA LITERÁRIA EM 2004, MAS, COM A ADVINDA PAIXÃO PERMANECEU DURANTE ESSES ANOS EM LATÊNCIA, EMBORA GRANDE PARTE DE SEU CONTEÚDO TENHA SIDO PUBLICADO, REPAGINADO OU NA ÍNTEGRA EM OUTROS LIVROS, MAS AINDA ASSIM, VEJO QUE SUA BELEZA É IMPAR, E PRA TANTO

LANÇO-O VIRTUALMENTE, VISTO MERECEDOR DOS OLHARES DAQUELES QUE ME ACOMPANHAM NESSA CAMINHADA, ESPALHANDO VERSOS A ESVERDEAR UM FICTÍCIO JARDIM EXISTÊNCIAL.



SENDO ASSIM, DOU COMO LANÇADO ESTE, ENTREGANDO À ACADEMIA DE LETRAS DE BALNEÁRIO DE CAMBORIÚ DA QUAL SOU MEMBRO, UM EXEMPLAR A POSTERIORES OBRIGATORIEDADES ANTE MEUS NOBRES CONFRADES E CONFREIRAS.





REGISTRO BILIOTECA NACIONAL



RETORNO POESIA

NÚMERO DE REGISTRO: 343.176

LIVRO: 631 – FOLHA: 336

RIO DE JANEIRO EM 01 DE MARÇO DE 2005.

domingo, 16 de janeiro de 2011

CAPA E TEXTO INTEGRAL DO LIVRO PLENITUDE (2009)



     PLENITUDE


PASSEIO DA PLENITUDE

                         
Sem que findas as passadas,
exulta em mim
              a prodigiosa euforia
a sentir que até aqui
                         sou efundida plenitude!
Daí por diante...
Qualquer acaso
é encontro do instante inspirador,
e o compassivo entendimento
   é eloqüência do versador
       a versatilidade de exclamar!

Arremeto-me
a ousadia da perpetuidade,
sem anular o desejo audaz
e irrestrito de um sonho!

Que em tempo algum o verso
se encontre desacompanhado
de uma solícita atitude
ao ser por ele transcrita...
Ou que um olhar
só a si o verso atenha.
Nem que seja de si imputada
a lógica de outro possível discernir!




Aqui verso
          o universo de possibilidades
              do homem se anelar ao meio,
e as conjecturas advindas
         de ser enobrecida a fusão,
a repensar cada ato
   do versar libertino,
                       passivo ao afloro da alma
a uma urdida sordidez...
Ou a mais singela ousadia!

O declaro...
É o desnudo afloro da poesia!
Deleite dos versos
poderem ser vistos um canto!


                            LUIGI MAURIZI












DEDICATÓRIA



Tem visão febril, e com acuidade
distingue quaisquer singelezas,
apercebendo-se de toda impetuosidade do íntegro versar. Hábito incontestável de uma “Águia”. Aqui...“Letrada”!

E com as imaginárias asas e garras
alça o conteúdo alheio em vôo pleno,
desdobra-o com versatilidade, e interpretativo permite o adensamento do itinerário do outrem, com o intuito de conduzir o afortunado até o delinear de um raiar que possibilite antever um diferenciado horizonte.

Ao Crítico e Amigo
                      
       CELESTINO SACHET



Feliz aquele que dispõem de tal olhar,
que sendo crítico e observador,
tem sapiente leveza
e tão austera autenticidade!
                            


                                                        


 PLENITUDE




















INTEGRIDADE



Verso cada boca
                       que procuro...

             Cada rosa
                        que rego...
     
             Cada cor
                        que enxergo!

            Extasiado...
Só praquela declamo
                         as cores da rosa
                                          que verso...

E se me aninho nos tais lábios...
                                Aquieto-me!
        









DESCORTINA O AMOR E O DIA


Ela se desdobra
        em afazeres de madre...
Ele os cobria de amor...
E a casa provia!

O café sortido a mesa
              dizia ser outro dia...
Há um longo abraço...
E o beijo
       que tudo principia!

Afazeres sob a confidência
                   ao serem em tudo...
                                      Parceiros!
Sob palavras e olhares caridosos,
         ali eram partilhadas
         as obrigatoriedades do dia!

Nas caras, as crias traziam
                      a sonolência matinal...
Mas faziam renascer a euforia
         que principiava cada dia.

A cada chegada havia um beijo...
E outro pra cada saída pro dia!





FRUTIFICAÇÃO



Como aquele que é sabedor
da abundância fértil de um solo,
e da demora em rasgar no tronco
os ramos aflorados
até que se dependure neles
algum possível fruto...

Assim, semeia o poeta seus versos,
num universo de rabiscos,
em páginas que anseiam...
Acreditando ser ele o elo
entre o ato de semear,
e a possibilidade de uma colheita.

Imprevisível fração de tempo
até que deitem neles algum olhar,
e uma mão faminta os colha...
Em saboreio daquela ousadia!











INTERMITÊNCIA



Desconcertante é o afloro
                                     da lembrança
que se quis fosse reprimida,
e que ignora sua inconveniência
num reviver intermitente
no silêncio de um instante,
                        sem que seja aguardada.

Infortunada preliminar
de um esboço de angústia,
a sentir ser inatingível
o debandar daquela paixão!

















AO AVESSO DA TRADIÇÃO



O cavalo é largado no pasto
                                          (do vizinho)...
                  Tal o orgulho que tem.
E cachorros libertinos,
    que sem cercas ou vigilância
afugentam carteiros e carroceiros,
ou quem por ali se obriga a passar...
Soltos e arredios... Na rua,
e nas terras vizinhas.

O “dito” faz-se peão,
               apontando o cavalo que tem
largado no pasto vizinho,
                 aos cuidados de ninguém...
                Nem farelo...
                Nem agrados...
Só o pasto é que lhe convém.

Fala grosso
ao  assentar no largo cinto a faca.
Vai enterrar seu cavalo,
                          vítima do descaso,
                                               ou descaro,
         ainda, nas terras do vizinho!





MOMENTO DEVOLUTO



Antes...
             
              Que o desejoso abraço
              seja só um acaso...
             
              Que pareça longínqua
              a possibilidade de acalorar...
             
              Que a pressa oprima
              a premissa de entregar...

              Que a conformidade anule
              a insistência de criar...


Antes...
               
                A rispidez do realismo
                   que traga consigo
                                       obrigatoriedades...
               Mas indique a possibilidade
                        de no entremeio...
                              Sonhar!






TEXTURA DA TRANSPARÊNCIA



O deleite da corredeira
                   ante o pé tão delicado
                                       e medroso
                   a ousar sentir a textura
                                                e a ventura
                                    de a penetrar,
                   feita limpidez cristalina
                              que extasia o olhar
e atiça o movimento cauteloso
                                           da inserção
                  do pé moreno da moça
a mergulhar sua transparência...

O olhar da moça
                quer a essência
                da inserção na turbulência
e medir-se na alheia transparência.












POSSIBILIDADE



O instante
reparte o tempo
                 entre um antes
                                    e um adeus...
   
Mas o abraço
dissipa a insistente contagem,
e eclode em palpável permissão;
Mesmo sendo indefinível
                             sua permanência.
















CASUÍSMO



A varanda muda e imutável
                                   assiste...
                      Sem acenos.
                      Sem sons.

Enxerga a passividade da avenida,
                     que ao seu invés,
                             é toda reboliço
                                de pés e pneus,
                                de gritos e gestos,
                                e olhares
pras nuas e mudas varandas!

















FLORADA



Margaridas em florada
são sorrisos transplantados
com longos e arqueados dentes,
se de alvo veludo fossem forrados!

Florão que se debruça
atado ao centro circular,
que amarelinho por inteiro
tem a função dos dentes atar!

Há quem nela faça a escolha,
em bem-me-quer... Mal-me-quer...
Arrancando dente por dente,
até saber de quem é mulher!

Margarida inocente
faz aguardo de ser tolhida...
É agrado permanente...
Até ao enfeitar a partida!










INDISTINÇÃO



Há braços que entreabertos
                      sugerem abraços...
       Outros são entrelaço
                      de causas sem fins!


Nos dois há o deslumbre
                        de ser o aconchego...
Mas o apego é só de um...
         Que não mede o aperto!

















INDIFERENTISMO



A ingerência de lucratividade,
    tida” insígnia” dos poetas,
é avessa à vontade da fome
   e expressa a riqueza
   que num interior
é tida inteira fartura.


É uma questão de postura
    a dignidade dita insana,
por ser percebida só nos versos...
Mas nunca avessos ao poeta!   

















DESARME



O despeito mais sórdido
é o desmascaro de um blefe...

Imaginado ser fatal a outro,
faz experimentar em si próprio
a rudeza do desarme...
Como se “gatilho”
que fere as próprias mãos.





















O PRÓPRIO OLHAR


Sofrível...
É o suplício
de um olhar consciencioso
que prometeu-se proteger...

De uma atitude dês-intencional
que permite se aperceber...

De uma voz contundente
que não admita se desdizer...

De uma tenacidade fulgural
que não permita sentir-se vergar..

De um gesto sutil e inquietante
que sem ferir faça entender...

Sofrível...
É o olhar que não se amedronta
ante a atitude de medir-se...
Pois há nele o código
de ser interminável o aprendizado,
o convívio com a permanência
da interrogativa que questiona
cada novo intento de prosseguir.




FRISOS DE UM SORRISO


Traçado no rosto, um friso...
Atitude pioneira da estampa
que expõem a alma no riso,
insistente, até que encanta!

O sorriso não se explica;
Só denota a satisfação
que contagia e se multiplica
até ser ele uma multidão.

O sorriso que conforta
desfaz a desesperança!
É chave que abre a porta
ao advento da bonança.

No sorriso transparece
do que o interior é repleto,
e pra todos se oferece
sem diferenciar dialeto.

Como se idioma universal,
cria um elo com o mundo;
O sorriso é intencional
ao partilhar o mais profundo!

O sorriso desdenha da fronteira
que o imagina em letárgica agonia;
Vê vingar nos lábios, faceira,
sua primazia, a alegria!


MAGIA DE UMA ILHA!


Ali toda a abóbada
       funde azuis a contrastar
                    com esverdeados,
que cobrem os elevados
das advindas vertentes
e córregos camuflados,
que só descortinam-se
nas transparências dos alagados,
como silhuetas contornadas
entre mutantes dunas
e longos braços espraiados.

Cada partícula é um rincão...
Enriquecido de enobrecida magia!

É a ilha... De infinitas fantasias,
num arquipélago que se agiganta,
protegida em casarões e fortalezas,
mas que convive com a singeleza
de nativos em casebres
que ostentam suas redes
a acolher com gratuidade,
como o deleite do afago
do debruçar da onda
que vê-se esparramada
em afortunada e incansável orgia.




É em teu seio que eclode
a evolução secular,
                       que a seu tempo,
emerge em causos e cantorias,
                a perpetuar
histórias de além-mar,
a não desvanecer a lembrança
de manter a essência natal...
Herança que permitiu miscigenar...
Mas manteve única e intocável
                            a genética ancestral.

Terra propícia à fertilidade
de prover de realismo absoluto
a intenção de incorporar
                            cada causo, ou conto,
imbuindo de íntegra
aquele que faz mostra inteira
do intento de ser sua terra
                                   a mais bela...
E a mais hospitaleira!












AVESSO CAMINHO



A atitude de conformismo
                    inibe iniciativas...
E permite a estagnação
de um movimento interior
em direção a um pré-traçado fim.

É daí resultante
a inquietude do ser...
Que avesso à própria vontade,
é submisso a tal confrontação.

Ao desdizer-se...
Cala uma possibilidade.
          Há o aguardo
da probabilidade passível
                                    de ser realização!












SEM O FIO DA SERRA



A serra que emudecesse...
                Não defloraria copas,
                nem exporia a crosta
                ao ignorar queimadas
                que acrescem clareiras!

Ao invés de afiados dentes...
                  Germinassem sementes
                  a revestir com urgência
                  desavisadas clareiras
                  da maléfica conseqüência!

Sem o estrondo do tombo...
        Haveria a insistência da vertente,
                          a liberdade do córrego
                                                  de ser parte
                             de um afluente!

Sem fio... A serra seria ineficiente,
               e a proeza de um broto
                 seria inalterada continuidade
                            do dom precursor
                            da doadora natureza.






ACORDO DE ACORDES
                    

Sou um aguardo
a cada acorde...
Uma resposta a todo entoar!
São aguardos providos de ânsias...
Sou fomento pra cada olhar!  

Sou incontido ao escancaro
das essências do teu riso!
E dedilho a eufórica partilha
em libertina profusão sonora
que a viola faz dispersar!

Sou inquestionável
ao desmedir em reticências...
As intermináveis possibilidades
de cada encontro de bar!

Sou violeiro...
E tenho cada ouvido como par!
Sou parte de um todo,
pois me encontro em todo olhar!

É só dedilhar...
E ser sorvido em cada gole
das bocas que contemplo nesse bar!





INCORPORAÇÃO
               


Na banqueta afino cordas...
E tu olhas pros ponteiros.

A cada corda que dedilho...
Sorves goles até um devaneio.

Tenho os olhos atidos na viola...
E tu vês a porta com aflição.

Minha alma é inteira extravaso...
Tu só percebes teu coração.

Confisco tua pretensão imaginaria...
Enquanto soletras pra tua amada
                                       minha canção!

E entre a ressonância de graves
e o retinir de agudos...
Sou fragmento da tua intenção!










DESOCULTAR-SE



Não me acovardo!
É só um tempo
de haver resguardo
a desvendar a dualidade
ao olhar-me como um inteiro,
revelando nesse contexto
toda própria veracidade
até ser convicto, ou difuso...
Mas sem anteriores
                   interferências,
ou preferências futuras!
















RECIPROCIDADE



O latido...
Faz o homem estar advertido.
Há de haver algum perigo
no sonoro instigo
em resguardo de casa e quintal,
ante a visita de um mandrião.

Se amigo,
abana faceiro e requebra...
Se instigado,
faz mostra da farta ossada
da pontiaguda mordedura.

O cão fiel
não por acaso é amigo.
Há que ter bom trato...
E o tempo que lhe dedico!












MÓRBIDO AGUARDO



Ficam prostradas, em despojo,
armas, armadilhas e artimanhas...

E me acoberta uma mansidão...
Mas é mórbido o aguardo,
e inquestionável o avanço,
contínuo, mas disfarçado
em rubores indefiníveis...
Será o fatídico desfecho?

É uma ânsia incontida!

Só o conforto da poltrona
acomoda a angústia de supor...
            Se permanência...
Ou possibilidade de partida!












DESPEDIDA

            


Na entrega, confessa...
Num afago
acolhe o rosto amado,
               e balbucia...
Declara... E permite
que o amor aflore.
E chora...
É ausência o que sente!

Dissipa a dor da saudade
quando quieta se abraça,
e encolhida disfarça...
Foge do tempo que passa!

Vê a hora vencida,
mas sendo intensa...
Não imagina a partida!

É um afável confesso
que balbucia ao aflorar a ausência...
E abraça... Disfarça...
Mas há esse tempo que passa!







IRRIQUIETUDE DE REBENTOS



Não é rebeldia
o sobe e desce incessante,
a queda em tropeço casual
e o tombo conseqüente...

A laceração é o resultante.

A lamentação... Interminável!

É só insistência
de ser incontida a energia,
desigual para cada qual,
                   a euforia dos rebentos!
















DIFERENCIAÇÃO



O lapso de um tempo...
                É a desproporção
entre as duas intenções,
que ante a abrupta descoberta...
Intuitiva, agride... Ou choca-se.

Mas se a fração se alonga...
É o tempo preciso
                     a uma atitude pensada.




















INVÓLUCRO DE UM ACOLHO
                 


A proximidade do afeto
                                cala o choro,
                                distancia a fobia
de sentir possível
                   uma suposta carência.

Exige a permanência,
como se em tubérculo,
                  invólucro de tatos protetores  
                                       ao rebento
no recosto de um seio
                      que se molda
absorvendo calor e afago,
que com intenção única
        assegura ser só seu
o instante que perpetua
o mudo acalorar do colo da mãe!

Cada qual aconchego
            que vara a infantilidade...
                               É único em si!

E num inteiro contexto...
    Conduzem ao entendimento
de estar aquele rebento protegido.




A UMA POETISA


Vês-te contida...
Mas almejas a dispersão incondicional
                              do versar...
E ser um doiro teu raiar,
intenso e permanente,
que adormeça a possibilidade
do entardecer vir a ser teu algoz.

És tal interminável reticência...
A ver os imaginários murmúrios
serem um audível e extremo clamor!
E noutra ora és o verbo irrequieto,
a se flexionar incansável,
até que apercebido o manancial
que te provê dessas iguarias...
Até seres inigualável poesia!

Fazes adormecer a megera mesmice
ao alvorecer cada audaz almejo,
e num rompante, já não és clássica!
Transpareces em versos libertinos
                                refletindo ensejos...

É tua singela e instigante inquietude
em clamores transcritos,
enobrecidos de inteira razão,
ausentando de ti a inconstância...
Ao serem eles... Pertinente intenção!


GEADA



O orvalho gélido
embranquece copa e pastagem,
enquanto o bafo aquecido
expele a contrariedade
e persistência do gado,
que imóvel, aguarda
o degelo permitir o apascento!





















DELONGA DO SONHO
                    

Há um gesto de sobriedade
que impulsiona a tresloucada mão
em ousado extravaso
a expor a inquietude intensa,
que mantida em tal obrigatoriedade,
como se contemporâneos padrões,
fossem o ferrolho empecilho
ao futurismo de poetizar...
E ora vêem-se em clarividência
oportunizando a partilha
de versos, e dos sonhos
da moçoila, até que mulher,
que num rompante de um gesto
encheu de luz a gaveta,
e um universo com poemas,
libertinos e encantados,
saltitando dum anonimato passado
à transparência de um amanhã!

Só um único gesto, e teu,
permitiria tanta transparência,
ao rebuscar em tal profundidade
tão idônea identidade!

Grilhões jazem aos pés do móvel
que juntos impuseram tal prisão.
Vista-te do alvo véu, acariciando
a possibilidade de seres ainda...
Aquela mesma e linda mulher.


PÉ-DE-VARAL



O pé-de-varal,
sofrida meia cruz de uma lida,
alquebra ante a insistência penosa
de escorrer pingos fio afora,
num desfraldar diário
sob a leveza de uma ventania.

É afincado fundo,
mas enverga fio e pau
com a insistência da Maria...
De fazer uso do varal!


















INTRIGAS NO COMEDOURO



O cômodo do comedouro
suporta a revoada barulhenta
a cada manhã, ou entardecer.

Famintos chegam, e em algazarra,
anunciando cada pouso,
até suster a interminável fome,
ao abrigo do acoberto em oferendas.

São insistentes pios de pardais,
de grulhos de rolinhas
com asas em riste,
de pedintes e negros chupins chorões,
de nervosos e barulhentos pardais.

Todo pouso é ousadia
de arremeter-se ao acaso,
espantando um ou outro
com as asas eriçadas e em rodopios,
garantindo o possível direito
a uma mesma farta oferenda!








RESGATE



Prostrada... Ante o infortúnio
de ter sido a castradora,
a gaveta arqueada pende,
permitindo o desvelo
à incumbência mordaz
que pensou resguardar a donzela...
Ou de ser seu desnudo
uma atitude banal.

O engano foi mesmice,
contrária ao libertino sonho,
que até um tempo... Aguardou!
Mas manteve intacta
a alma e o esplendor
da donzela a ser vista desvelada!














CANAVIAL



Pé de cana enfileirado,
enraizado cresce esguio...
Abraça o chão costurando...
Cada raiz é feita um fio!

O vargedo é visto veludo,
se tapete enchendo um vazio;
Todas as folhas de verde opaco,
abanando a quem fez plantio!

Entre touça e veludo desfraldado,
que abana com a brisa num chio,
tem o caule longo e eriçado
guardando em si o sumo com brio!

O casco é fibroso em resguardo
de ser o sumo seu galardio;
Em álcool e açúcar é refinado...
Rico como alimento,
e sustento de pavios!









FOI RESGUARDO



Poemas acomodados...
Retalhos de vida inteira
ao sigilo da gaveta,
resguardados ante a possibilidade
de medrar a interpretação...

Líricos...
Ante a libertina clarividência
(se aberta à gaveta),
havendo a vulnerabilidade
dos transcritos versos...
O desnudo inusitado
                      da juvenil paixão!

  














SEMPRE... É FUTURO!


Sob o abrigo da primata intenção,
que em grafismos rudimentares
fez inserção no incontestável tempo,
fendendo a pedra com pedra,
a marcar a futurista descoberta,
disfarçada em rusticidade
é permanente e ríspido atrevimento
de varar e vencer o tempo.

Vê seu intento
em um acaso a descoberto...
Ah! Se visse o tal primata
a euforia instantânea
a divulgar em telas a pasmar,
os intrigantes rabiscos
com suas arriscadas intenções...

Louca linguagem
a demarcar o elo rudimentar
do medrar solitário da caverna...
Até um ensurdecedor futuro!

E em cada tempo,
cada um pensou estar maduro,
continuando cada qual a marcar...
Acreditando haver ainda...
                                      E sempre o futuro!



AUTENTICIDADE


O afloro dual dos traços
frisam a intensa adversidade
na estampa de um mesmo rosto!
Contrastam a mansidão...
Com o escancaro em um revolto!

Sendo cada qual
o marco que define
a identidade ser única e autêntica.
Sem que denote essa transparência,
                                 ter aquele,
                  dúbia a personalidade!


















ORATÓRIA



Angelical se posta,
e exala candura
em suposição de perfilha,
libertando do íntimo
a virgem lágrima
a varar afora no rosto,
indo depositar no genuflexo
a intensa fé que em si esculpi.

Ora emudece...
Ora em pranto silencioso implora...
Mas ainda assim é em si ausente
qualquer traço de possível agonia.

É cheia de graça...
A me enternecer a constrição
que transfigura a estampa,
a não se ver em olvido.

Discerne ser transitoriedade...
E vê-se sem culpas a retornar,
sublimada, crendo ser dádiva
                        o benfazejo sopitar!






INSTANTE REBUSCADO



Aqui, não te trago.
Mas num lapso te encontro,
                                despojada,
alheia ao assédio
do flerte audaz de um outro olhar,
                  que permissivo,
desentenderia as artimanhas
da tua predileção de aquietar!

Há de ser em qualquer tempo
de uma fração imaginária
que irei te rebuscar,
até seres...
Só meu o pretenso querer!















CONTENDA DO VIÇO



O viço interno
que aflora irrequieto
em instigantes transparências,
tem a particularidade única
         de ser acolhido...
Despojo em exuberâncias
                 que imperam externar.

É infortúnio atê-lo,
e num acaso silenciar
sua euforia pré-suposta,
                        amadurecida no alento
de ao transcender...
     Ver-se a iluminar!















EUFORIA DO OUTONAR



É final de outono,
de gélidas instigas
em intermináveis ventanias...
E do acoberto esbranquiçado
da insistência da geada.

Despencam folhas avermelhadas
                         tingindo toda a cercania
ao sombreio de galhos eriçados,
e ali, a um tempo de permanência
           enrolam a cor,
retorcidas e pardacentas,
desfragmentando-se nos passeios
sob o tal instigo insistente
e gélido das ventanias.














ALGODOAR DA LIDA



Há dias que são de invernar...
Quando só a rede aplaca,
                       em acoberto,
                  as dores da lida,
desnudando induções...
Ali traduzo dissabores...
Desvendo conjunturas!






















ACUIDADE DE UM VÉU



Esvoaçando ao movimento,
contrasta da direção do passo
e enevoa a fronte,
induzindo ser impenetrável
a sutileza daquele olhar.

Encobertos os contornos
que atiçam a imaginária cobiça,
pois sem a exata medida,
pressupõem comparativos acertos...
Ao delinear o suposto contexto
contido sob aquele véu.

















DESNUDA ALEGRIA



Pés travessos e empoeirados
vasculham despretensiosos
o campo de chão batido,
um terreiro ao desuso,
que faz-se o alegórico deleite
das surradas peladas.

Bambus arqueados
e apodrecidos pelo tempo,
são demarcações arqueadas
que denotam as linhas do gol.
Mal suportam a algazarra
da façanha da passagem
pela linha traçada
pelos desnudos pés em arrasto,
indicando ser o fatal demarco
que debandaria em algazarra de gol.

Em tempo algum morreria
a lembrança da bola
furada e vazia,
que no baldio, parecendo agonia,
passeava entre os desnudos pés
dos meninos que sorriam!



     

LEDA LÁCTEA
               (O PASSAMENTO)


A suntuosa magnitude do Espírito,
que transcende imaginárias linhas
e extrapola definidos conceitos,
direciona com visão retilínea
a ascensão imposta á alma
que liberta, desfralda
a imensurável incógnita
de ser imaginária continuidade
o passo que doa ao jazigo
o corpo desflorado de alma
que cala ante a frieza
                            daquele abrigo...
Mas acende-se a essência
que, daquele desgarrada,
          é inusitada Láctea
a esfraldar sob um olhar confidente!

Não és gêmea
              de outra alguma.
Agora, és poema próprio!
                   Único e refletivo.
Aquele que sem esse teu aparte...
Nunca haveriam de declamar!






RETOCANDO



O brilho a se esvair
definha a lisura dos traços,
denotando angústias
de uma possível insignificância
ante o desdenhar da tua entrega...

Mas se ergueres teus olhos,
bastando a altura do horizonte,
verás quão infinda
é a métrica de possibilidades
esperando pela audácia
de teus passos descobridores,
sob um olhar astuto,
que personifique a persistência
de inovadas oferendas...

Até voltares a acreditar
poder teu novo mundo colorir!










OUTRO PASSO



Cada passo é ousadia
quando se sente o cansaço
e impera a exigência do renovo
a injetar ímpeto nos passos...

Imposição do espírito desbravador
ante a fragilidade do corpo
a se permitir a continuidade,
olhando além de si mesmo,
em traçados inusitados
e de esperançosas venturas.


















SE INEXISTIR O VÉU



És afoita,
      se protegida pelo véu...
Mas se te despes,
         te encontras com medos
a demarcar o delineio
de uma suposta limitação.

Há que se apostar
       na possibilidade
da idade se desmedir,
e ver-te refletida num aurorear
                 libertino dos egos,
e desprendida... Prosseguir!
















DEPOIS DE TUDO



Se apreensiva...
Inda assim não te arrependas.

Ressalve o conteúdo
que de ti emanou
na transitoriedade daquela paixão,
e faça abrigo na fortaleza
que ao tempo se erguerá
se permitires o afloro
das transparências
que escondes sob esse véu!


















REVOADA



Entre um momento teu
                    de constância...
E outro de ser pertinente
a intenção de um vôo...
Eras a visita,
num pouso, inquietante e difusa!

Apedrejavas teu desejo...
Mas mergulhavas no visco
de um fulgurante gozo...
Que sob a cadência dos ponteiros
irrompia em absurdas promessas!

Transcorrido o círculo do ponteiro,
                                                e do gozo...
                             Não mais!

Perpetuavas nas entranhas
a eloqüência da entrega
                           ser incontestável...
Mas repudiavas a promessa
de haver continuidade...
Ou ser a entrega eviterna!






PREDILEÇÃO


Tenho a predileção
que ao esparramar o verso,
seja com o grafite,
em folhas soltas,
sem grampos ou colas,
livre de presilhas
que o atem a obrigatoriedade
de ser contínuo ou interminável.

Prefiro o descarte
e a reconstrução,
a ater-me na insistência
submissa e demagógica,
e ao risco de tornar dúbio
o verso nascido da lisura
de um momento inspirador.

De folha em folha
o verso cumpre a intenção
ao ver-se transcrito sem rasuras,
emendas, ou casualidades.

Verso apercebidas veracidades
sob um grafite persistente...
                              Que se doa! 





CONFIABILIDADE



Aquieta-te,
e apascente em teu seio
a plenitude de amar
o irrestrito Cristo,
que todo se faz doar...

Que é conhecedor das dúvidas
que não ousas compartilhar...
E aceita tuas escolhas,
te assentando onde é teu lugar!

Afasta-te
da predileção a vã palavra
que dissimula culpas,
mas enegrece a estrada
que te conduz ao entendimento
do prodígio de um retorno
aos braços da verdade!











CONSTRUÇÃO



A edificação sólida do abrigo
desdenha da construção do verso,
ao ter assentados os tijolos
e ver-se atado a laje...
Pré-supõem a durabilidade.

Enquanto o verso...
Ata-se a idéia
e vê-se poema...
Crendo ser perpetuidade.

A edificação sugere seguridade...
O verso é inteiro gratuidade.
















INCONSTÂNCIA



A suposição ditosa
de partilhar a evidência
de se inserir no pacto
que vivencia a tal paixão,
induz o ego a sublimação...
E cego,
desprovê-se de artimanhas
e desapercebe ranhuras,
                              inconveniências...
                              As tidas sutilezas!
É o porvir
   de desavisos do desenlace!

















VISLUMBRE DO ALTO VALE


A trilha cerceia o recosto da subida,
que montanhoso, ladeia o rio...
Que caudalente faz-se impetuoso!

O remanso pras pernadas ofegantes
submetidas ao íngreme esforço
é o vale que floresce...
Ali... Toda história se enaltece!

Serra acima o choro principia
onde vertem ocultas nascentes
que se doam a afluentes
em declínio barrento arrolhadas!

Abrigo da rusticidade
de peões a conduzir manadas...
Passarela de toras e taboas serradas
das cercanias de outros rincões!

Terra de bom presságio
que inteira se fez cultivo,
ao alento do adágio
de ao imigrante se doar!

Cada afortunado quintal
vê-se em premiado celeiro...
Até o alagado, que vasculhado,
é obra nas mãos de um oleiro!


A inabalável fé que se apregoa
                               é uníssona difusão...
Em cânticos que em coro ecoam
da monumental Matriz ao vale...
                                 O inteiro porvir!

Calaram a ferrovia
ao blefarem pútridos dormentes
que sustentavam a ousadia de trilhos,
e o saudoso chiar do apito do trem.
Só não calaram o interminável grito
do homem que vence a subida,
e ante o próspero vale se detém!

Artesões lapidam o tempo
como se o último a gerar
a ousadia do intento primeiro...
Desse vale habitar!

Ali abunda a fartura
advinda do cultivo
a ser farto trato...
Foi sujeito a calosidade...
                      Mas que não sucumbiu!
É atrevimento latente e primórdio,
visto no adentro do vale,
que entrecortado por um rio...
         É do sul!


              Um olhar que por ali passeou!


SACIEDADE DA ORLA



O olhar alcança a orla
em contínuo avançar de marolas,
espraiando num colo,
como se ali findasse
ou iniciasse o compromisso
da orgia de enrolar-se
num lapso diminuto,
e em outro estirar-se...
Até o retrocesso
mostrar-se na úmida areia,
a juntar-se a outra marola.

Mas jamais ver findado o beijo,
mesmo se serena, ou intensa,
a instiga de uma tempestade...

O olhar...
É um perpétuo desejo
que saúda o acolho
a essa obrigatoriedade!








SANTA ESTATÍSTICA



Manifestos pacíficos...
Pacifistas sob protesto...
Ignora-se a fragilidade
ante a ferocidade absurda
advinda da impunidade
que encurrala o apelo punitivo, enjaulando em suposta seguridade
outros, que sob as mesmas penas
e leis de salvaguardo,
vêem-se reféns de uma trégua,
ou no aguardo da fatalidade.

O desarme só enaltece
a incidência de um risco
ao acaso num gráfico...
Sem que aflito aponte
a tragédia impune,
o tráfico camuflado,
a cela apinhada,
o descaso do socorro,
o corrupto suborno
que cega o olhar que se omite,
e insiste: JÁ ERA PREVISTO!





COMO SE PLÁGIO



Sou teu olhar aguçado
que não ousou o manifesto
de sua têmpera, que omissa,
tornou o verso inascível...
O aguardado declaro!

Exclamas ao vê-lo ali estampado,
idêntico ao teu fecundo olhar;
Mas ignoras a reação do manifesto.

Declaras-te apaixonada...
Contenta-te apercebê-lo
no verso de outro,
mesmo tendo o teu feito calar!















APARTAR O PÓ



Cachoeira teu enrosco
                      abrase meu ardor.
Sinto a dor dos devaneios
           ao voar de colo em colo...
E todos chamar de amor!

Trago a estrada libertina
             pras tuas águas cristalinas...
Lave o pó dessa viajem,
          pois já não sou o estradeiro...
De que me importa tal bagagem?

Viajei de colo em colo,
cada qual chamei amor...
Mas o engano dessa estrada
         cala só ao teu frescor!

És o doído renovo
        que aparta em arrolhos
     de olhar tão cristalino...
                      Cada mágoa...
                      Qual acolho?







ENTREGA TOLHIDA



Tu vês o tempo passar
              de freio puxado,
              com a alma na mão...
E mesmo querendo se dar...
   Tens que estéril ser!

Mas eras o fértil chão,
e não quiseram te arar.
Não foste adubada ao plantio!

Sem estar inserida,
         não viste o crescer...
                             Ou amadurecer!
Tolhido foi o teu prazer
                 de ver tanto amar
                              em algum fruto
                      poder se oferecer!

Não te permitiram
         sentir o sabor
                        do salutar sorver...
                       De ver-se entregar!
E tens que esperar que o tempo...
   Tudo possa mudar!





APREÇO DE UM AGUARDO



O profundo suspiro...
Um exclame de saudade
                          a exalar dos lábios,
                                            como da rosa
                                            vertem odores...
                           Difundindo convites...
                           Expressando apreços...
                          Cobrindo de zelos!

Findo o aguardo...
             O exclame emudece!
Foi essência exalada...
       Relegada a um suspiro!
















CANTO DE SEMEIO



Tens o terno olhar
              que tateia meus versos,
e nem percebes
que esse teu gesto
        impulsiona o canto que verso...
E me fazes poeta!

Enriqueces o universo
do canto que nas cordas dedilho
cada verso que expresso...
O intento de estampar teu brilho!

Se num afago
     dedilho as cordas...
                     Te dispo inteira!
Meus lábios se inquietam
no declaro que proseio...
Plantando em ti amabilidades
sou semente do teu anseio!










ANSEIO DE ESPERA



Se aqui vens...
Encontras vinho e rosas!
Mas é de mim que sorves sabores.
Aqui tens...
A quietude dos teus amores!

Se te espero...
Sou o anseio do teu colo!
Espalho esperanças no assoalho,
cubro-me de enfeites...
Sou teu inteiro agrado!

Se não vens...
Inquieta-me a alma,
e vejo a estrada...
Mas não desejo ninguém!













PRIMÍCIAS DE POETAR



Inseres em versos
                o rememorar de insistências
saídas do invólucro
                    que acerca teu ser!

É puberdade de poeta,
                           aflorando,
até que apercebida
       a consistência do querer!

Faz-se poeta peregrina...
Imigra, até encontrar
                 a alma confidente
ao seu clamor de amar!

É no todo um declaro...
Sem a rasura do medo!
É virtuoso teu olhar
a desvirginar cada desejo!

Cada verso em ti se inquieta!
É excitação da probidade
                        a complementar
                           tua inteira poesia!

                                             



AINDA...



Era ainda um menino
a espiar teu revelo...

Rosavam lábios e pele
ao aguçarem sentidos...
Murmuravas ao arrojo
                            de cada sutileza
alojada no entremeio
despido de couraças...
Quando dizias me amar!

















ENTRE VÔO... E POUSO



Nunca te vergues
ao inconformismo do corpo
se a debelar-se entre seu desejo
e o ensejo de sentir prazer.

Nem acalentes a suposição
de sentires só satisfação...
Pois entre o enleio e o despojo...
Haverá um prematuro adeus!

Tenhas o olhar perspicaz,
que entre alma e corpo
encontre um ponto
que equipare teu desejo...
Quando advinda à lassidão!

Tenhas só a incumbência
de pesar teu arrojo incondicional...
Atentes a transparência do enleio...
E não seja tua entrega desigual!

Ame o sonho que acalentas...
E te cubras de paixão!
Solte rédeas, arreios, e cavalgue...
Mas não te desprendas de um chão!




DEBANDADA NUM REVÉS



A angústia de um revés
                       fomenta a incoerência
que transforma a solicitude
em nebulosa descrença
a decepar o broto inquietante,
em juras de um dia amar!

É desconforto pra alma
o contrariar de tais venturas
ensaiadas em inocentes traços
de juvenis pinceladas...
Até parecer se figurar!

É maldito todo revés
que tolha a infinda possibilidade
que alcançaria um olhar,
em espreita da delícia de audácias
que permitissem inovar!

É como se a íntegra de um útero
fosse destituída da possibilidade
de ser acolho de um feto,
que chora tal permissividade...
E ao acaso desse revés...
                      É abandono!
  



VESTIDA DE PROMESSAS



Te vestes de surpresa...
                  Pra ser inesperada proposta!
Acolhes com euforia redescobertas...
Tens apresso a uma resposta!

Abres portas de céus...
                           És infinda e desmedida
                                 entre o colo
e o aconchego de seios!

É sedenta tua ansiedade...
Com probabilidades de ápices
fundindo em trocas,
                    como promessas...
De o êxtase ser supremo vislumbre!    














INUSITAR DO VERSO



Sou um verso em dissidência
ao poema abtruso,
                     a se ater
ao cabresto de obrigatoriedades,
contendo-se entre números e formas,
                         mesmo havendo nele
outras incontáveis possibilidades!

Solto amarras do tal ancoradouro,
                              e só persigo brisas...
Sofro o instigo de vagalhões,
                              e o rasgo de corais...

Mas avisto gaivotas audazes
                       em elegâncias de vôos,
que em estridentes pios
        indicam haver um remanso...
Um porto que dista daquele,
       que permite outra poesia aportar!










ARRIBA DE SÃO PAULINO


O homem imprimia aos passos
afundar a trilha a fazer roçado
pro semeio que levava...
E gratuitas dádivas ele trazia!

A terra que carpia
abastava-lhe de trato
que ao suor se oferecia!
E em seu lombo descia,
em pencas, a banana
que era ceia de todo dia.

Magro e surrado
levava facão e enxada:
Um que deitava mato...
Outro, que o roçado carpia!

Tinha sede da noite
que aplacava o cansaço
que da serra trazia.
Lá, arriba do rancho,
fazia nos flancos plantio,
onde clareiras abria.

Ascendia fogo
e tratava galinhas...
O olhar... Perdia nas brasas
que o aipim cozia!


PROESAS



O cio não cala...
           São gorjeios despojados
                   de pagas à um canto
          que aflora ao clareio
          a dádiva de outro dia!




O galho pende...
E o céu cede
um espaço infinito
                       a cada que pousa...
                      Ou daquele que ousa
                            bater asas e voar!











MIMOS’IDADE



A vida se recria
na vicissitude de teu olhar
à casa de brinquedos
em que plantas teus bichos,
no pequeno mundo teu!

E nele traças enredos
   (indivisíveis segredos),
até a mocidade vir te alvoroçar,
sem que te assombre um medo,
pois acrescem em ti credos
que teus pais, em zelo,
apontaram ser retidão!

Louves a graça desse lar
                que te acolheu
(fostes prematura esperança),
até seres exposta ao instigo
de seres como um fruto...
                Amadurecida!

É a vida que te acorda
pra infinita proposta de exclamar
a todo precioso instante,
que repleto de euforia e encanto,
vem por si te completar!


ARTIMANHA DO ARIGÓ




O arigó empunha a maceta
sob o abrigo rústico da lona
                       (como se cabana),
acomodando-se de cócoras,
plantando-se ao tamanco,
e curvado equilibra-se
ao se atar determinado ao punção
a desenhar um risco
em alinho ao veio...

E ponteia o abrigo da cunha
que recebe o embate
do estalido da maceta,
partindo-se ao desejo
de talhar rebarbas e sobras
em cada uma das pedras,
como se cada delas
fosse arte afinal!










RONCO NA SERVIDÃO




O toco traçado
ronca nervoso servidão acima...
E na clareira se esbalda
a encher a caçamba
com as pedras talhadas...

O toco traçado,
              já carregado,
             desce aos arrastos
                         arrancando terra,
                         transpondo erosões,
até alastrar faceiro
seu ronco baixio afora,
                     na estrada geral!














HERDAR UM PASSADO




Há mil formas teóricas
de criações, de outrem,
que se adiantou de mim...

Impondo crenças...

Carregando medos...

Mortificando egos...

Calando desejos...

... Que se deles me desgarro...
              Serei o dito bastardo
                            que contarão de mim!




















O ser inteiro abranda
se enxerga a possibilidade
de amanhã...
      Alvorecer!

Procura o abrigo da esperança...
Quer agora a bonança
do abraço que prometa
                     só sobreviver!















APREÇO DO EXPRESSO



Oprimo meus passos,
e me apresso a primar os versos
de apreços que expresso...

São pompas a orgulhar
o esmero ao versar
                   da alma
                        (como se ventre)
almejando procriar!

São versos sem a imposição,
pois há o tempo de os abolir!

E expresso como a mãe
que anseia o rebento
em seu tempo de parir...

São transbordos de aguardos
a noutra página se inserir!










DEVERIAS...




Deverias ter permanecido
mantenedora de meus anseios...
Enraizado tua febril paixão
em nossas fendidas profundezas.

Deverias ter resistido
a febre de outro colo...
Ou de uma boca qualquer.

Deverias ter me preferido
à desistência de inovar.

Levaste só lembrança...
E deixaste a terra por plantar!














INTENÇÃO




Fui amor teu...
Com a indiscutível convicção
de naquele tempo
preencher inteiramente a lacuna
                      (descabida e ardorosa)
sedenta de cumplicidade,
com o amor meu!

Fui à intenção tua
       ao dar-me inteiro...
Sem a promessa
          de o apego ser eterno;
Só desejo de continuidade!

Fui à promessa
           que se cumpriu num feto,
a dar-te o direito
de seres contínua frutificação!









AGRADO




Os braços aguardam o acolho
                     das pretensões
 de teu abraço...

O colo fervilha ávido,
            ofertado a sutileza
com que roças minha pele!

Os lábios segredam agrados
ao encontrar desnuda tua intenção!

A alma é passiva ao encanto
apercebendo delicadezas
                           ao ser teu amor...

Cada gesto é saciedade
                       de artimanhas revestido
                       a um inteiro despojo...
                      A ser agrado meu e teu!









APORTO DE SUSTER




Vejo-me lânguido
e submisso ao enrosco
da boca com bicos de seios...
De mãos com coxas...
Até que encontro fatal!

Sou mortal...
Mas sem a hipocrisia que desminta,
e sinta tal ardor ser banal!

Sou tal âncora,
e sustento teu aportar...
Sou a marola que te embala
até ver-te sossegar!













FALTAS



Ao tempo de recomeço...
Ditei só enxergar a imensidão
da interminável estrada
                                  que conduzisse
a inteira satisfação...

Que indicasse toda possibilidade
                             de cada bifurcação...

Que medisse distâncias
                          da tua aproximação...

E percebi, no entanto,
                    a ausência da atitude
que ditasse a mim a constância
                        da tua permanência!
 




















Ao rever meus anseios...
               Sou a alma pedinte,
                                      em aguardo
do alcance de uma mão,
                      que estendida
é oferta de gratidão
                a um pedido de abrigo,
e da necessidade de perdão!

















Sem haver desleixo,
         nem conformismo,
inda assim percebo
          a imposição de se ter
             exuberante a aparência...
Essa, que nesses tempos...
                    Esvai-se de mim.

Então, o amor próprio,
              já não mais é
                           tão próprio assim!




Há pra tudo...
      Um início!
E por meios...
   Chega-se a um fim!
Quer pra ti...
Se pra mim!





MANIFESTO DE FÉ


Se não tivesse ousado...
Não haveria o enredo.
Seria o espaço inalterado!

Se não houvesse dito...
O peito manteria encerrado
o manifesto do grito!

Se não tivesse voltado...
Teria continuado,
mas jamais teria sabido!

Se não penasse cada perdão...
A tal (o contexto de um livro)...
Não me permitiria!

Mas há o alento
do volver do olhar
que apercebe faltas...
Mas mantém a fé
de ousar se inserir!   




ÍNTEGRO TOQUE


Lindas luas...
Ávidas de olhares vagueiam
espreguiçando prata e sombra,
                               a permitir sonhos...
                              Ou proibir mostras!

Melosas luas
                 deixam-se banhar
                 por intrusas tangências,
a escaldar sob o doiro
                      numa rota imposta
em um eixo rotineiro!

Inda assim... Pra sempre lua
de pálido prata ou mel,
a permitir imaginar ser possível
a ousadia sutil de meus dedos
ante o sonho de tocar-te!












ANSEIO DE SEIO


O rebento reclama
a falta da mama...
A fralda umedecida...
O colo que dali se ausentou.

Esperneia e chora até que afina...
Até que a porta se abra
e a figura pré-sentida a acolha,
entregando sob anseios o seio,
calando o choro,
cessando o esperneio
com a boca cheia do bico
a variar entre seio e seio!

















PROMESSA QUE PRINCIPIA



Estreitado laço
contido entre o aperto e o quarto,
enquanto a rua em polvorosa
urgia ao amanhecer do dia...
Ali ardia o primaveril acordo!

O gemido insinuante vazava na fresta,
a escorrer dentre as bocas roçadas
farta de ânsias, quase tardia.

Cada uma... Se única procura!
Extravasando paredes e horários
o convincente manifesto
da pioneira promessa daquele dia!















DA ESQUINA


Oportuna... Vistes seres a escolhida,
expondo tua submissão na esquina...
E acompanhas com o olhar
cada transeunte, percebendo
toda intenção que te mira,
em aguardo da provável investida!

A fartura... Só desfila...
São dourados aros de cobiça
perfilados na avenida...
Mas distam do alcance
                         da tua pretensão!

















BRAÇOS DA BONANÇA


Que o desbravar de teus passos
seja imantado de perseverança,
e que tua lembrança
retorne a trilha dos braços
que acolheram tua aflição...

Naquelas longínquas paragens
envolveram-te de bonança,
e até permitiram ser paixão!



















OPORTUNA VISITA


A lã tecida em listras sorria
ao proteger a magra figura
que todos os dias fazia-se notar
sempre que a porta rangia
e apitos avisavam ser já o meio do dia...
Quando eram largados apertos de lidas
e motores emudeciam...
Quando por instantes ruas e calçadas
ferviam em idas e vindas!

Trazia a face sombria
como se fosse recente a amargura,
e isso fosse agonia...
Na mesma hora de cada dia!

E saia levando consigo
o agrado de meias palavras
trocadas num instante miúdo...
Era sempre oportuna visita!

Sabia se vinha
quando os ponteiros se agrupavam
naquela mesma direção...
Quando o passo calava na porta,
mas seu cheiro vencia o umbral...
Quando a timidez dos nós de dedos
ousavam avisar a chegada, como sinal...
E de dentro partia em ânsia
o chamado do teu nome afinal!


BRADO DE VENTURA


Quisera...

Tal glamour não fosse findo
na angústia de um brado...
Antes houvesse o lábio
que atasse em beijo
a ruptura do entrelaço!

Quisera...

Não ardesse em ferida
a culpa da tardia partida,
protelada na esperança
do renovo no outro dia!

Quisera...

O choro da bendita cria
fosse tido um pedido enfático
a ser remissão da ventura
do amor ser contínua ousadia!













Sou feito verso
        de extrema leveza...
E sou a crítica incisiva
                              que delata,
            sem ser degradante.

É a estampa do homem
                               que fui,
       outra, como estou,
e ainda, o que só meu olhar
mudo e observador percebe!

Mas no todo há o apego
a convicta veracidade
ao conduzir estas aspirações...
Sem, no entanto, inesquecer
estar sujeito a carne e credos!














Falo de plenitude
enquanto aplaco dores...

Mas ouço e louvo o canto
daquele que como eu
insiste na crença
da possibilidade amanhecer,
e agradecer cada entardecer,
acreditando que adormecendo,
outra vez hei de acordar,
e acrescido de maturidade!

Mas incontido ante a vicissitude
de cada oportunidade!
















Aguarde-me... Como um sonho
                                           que vem...
E parte sem a promessa
   de voltar a te envolver!

Mas pense...
Que cada acaso de uma vinda
                possa ser um ultimato,
                                    ou um desejo
       que possa a ti me ater!


















Rasgado o ventre
                   a possibilidade de criar
um poema gritante
um verso a debelar
a fissura latente
de um visceral externar!

Oh! Poema bendito...
Bendizes a intencional razão
oculta, pois omisso fui eu,
e minha tremula mão,
temerosos da dor que laceraria
em tal sangria do verso!














UNIVERSO DE VERSO



Fervilha entre a sede de ser mostra
e a abundância imaginária
de ser a arma penetrante
de um entendimento possível,
o verso irrequieto
vestido de artimanha,
encoberto de razões incontáveis
mas indizíveis a um apressado olhar,
não ao teu contundente interesse,
revela-se como uma lembrança,
alegre e indisfarçável
clareando tua alma gratuitamente,
como se cada um deles
fosse teu próprio universo.















REFERÊNCIAS DE REGISTRO



ISBN 978-85-61930-02-8



PLENITUDE:
N:444.036 LIVRO: 833 FOLHA: 196

CONTINUIDADE DE PLENITUDE
N: 459.897 LIVRO: 865 FOLHA:86